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Seminário internacional debate práticas ilegais no comércio de peles de jumentos para China

Número de animais abatidos no Brasil saltou de 1.000, entre 2010 e 2014; para incríveis 248.000, entre 2018 e 2024.

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  • 24/06/2025, 16:00
Seminário internacional debate práticas ilegais no comércio de peles de jumentos para China

Maceió, AL - Uma força-tarefa global, formada por pesquisadores, órgãos públicos e organizações de diversos países, incluindo o Brasil, está intensificando os esforços para interromper a matança de jumentos, para a fabricação de um produto conhecido como ejiao - feito a partir do colágeno extraído da carcaça desses animais, fabricado na China e em outros países asiáticos para aumentar a vitalidade dos usuários.


A crescente demanda por esse produto já é responsável pelo abate de mais de 5,9 milhões de jumentos por ano, no mundo, sem contar as frequentes denúncias de maus-tratos, comércios ilegais e impactos socioeconômicos negativos para comunidades rurais em muitos países. No Brasil, só entre os anos de 2018 e 2024, cerca de 248.000 jumentos foram abatidos apenas na Bahia - o único estado com três frigoríficos licenciados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF).


De acordo com dados oficiais do Ministério da Agricultura e de frigoríficos legais no estado da Bahia, o número de jumentos abatidos no Brasil foi de 1.000, entre 2010 e 2014; passou para 91.000, entre 2015 e 2018; e chegou a incríveis 248.000, entre 2018 e 2024. No Brasil, para cada 100 jumentos que existiam há 30 anos, hoje só há 6. Espécie corre o risco de desaparecer no País se não houver aprovação imediata de uma Lei proibindo o abate para a exportação de pele.


Debate


Para debater o iminente risco de extinção dos jumentos, será realizado em Maceió, nos próximos dias 26, 27 e 28/06, a terceira edição do seminário internacional Jumentos do Brasil: Futuro Sustentável. O evento é promovido pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), com iniciativa da organização não-governamental de bem-estar animal The Donkey Sanctuary, sediada no Reino Unido.


No evento, a ONG irá lançar a campanha global Stop The Slaughter (“Parem o Abate”, em português), em contraponto à crescente demanda pelo ejiao. Um relatório inédito sobre a matança de jumentos nos países da África será apresentado na ocasião. Clique aqui para saber mais informações sobre o Workshop em Maceió.


Cenário


No Brasil, a The Donkey Sanctuary, ao lado de diversas universidades, profissionais da medicina veterinária, ONGs de proteção e animal e demais coletivos da sociedade civil, lutam para a aprovação de uma legislação que proíba a matança de jumentos. Por meio do site www.fimdoabate.com.br, a população é convidada a enviar uma Carta aos Parlamentares por e-mail, preenchendo um rápido cadastro, para que os legisladores aprovem dois Projetos de Lei proibindo o abate de jumentos.


No Congresso Nacional, tramita o PL nº 2.387/2022, que já passou pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara, e aguarda votação nas duas casas, seguindo para a sanção do presidente Lula. Já no estado da Bahia, tramita o PL nº 24.465/2022, também aprovado na CCJ da Assembleia Legislativa, à espera de votação dos deputados estaduais.


Dados oficiais da FAO, IBGE e Agrostat indicam que o Brasil já teve uma das maiores populações de jumentos do mundo, de 1,37 milhão em 1999. Hoje, no entanto, a situação é alarmante: o número de animais caiu 94%, de 6 para cerca de 78 mil em 2025. Isso significa que restam hoje apenas 6 jumentos para cada 100 que existiam na década de 90.


“Essa não é apenas uma questão de bem-estar animal. Estamos falando de um patrimônio genético único, adaptado ao semiárido do Nordeste brasileiro”, afirma Patricia Tatemoto, coordenadora da campanha da The Donkey Sanctuary no Brasil. Segundo ela, o fato de muitas famílias terem substituído o trabalho exercido pelos jumentos em seus meios de produção não pode ser argumento para permitir o abate desses animais. 


“Existem três caminhos sustentáveis para os jumentos no Brasil: viverem livres na natureza, continuarem a apoiar a agricultura familiar e serem reconhecidos e valorizados como animais de companhia”, explica a pós-doutora em Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo.


Estudos


Pesquisas recentes confirmam que o jumento nordestino possui um perfil genético distinto, o que torna sua preservação ainda mais urgente. Para Roberto Arruda, engenheiro agrônomo e doutor em Economia Aplicada (USP), é fundamental concentrar esforços na pesquisa e no desenvolvimento de soluções que substituam o uso de peles de jumentos.


“Estudos já apontam alternativas tecnológicas promissoras, como a fermentação de precisão, capaz de produzir colágeno em laboratório sem a necessidade de exploração animal. Investir nessas inovações é essencial para proteger a espécie e promover práticas mais sustentáveis, inclusive sob a perspectiva socioeconômica”, destaca.


Exemplo africano


Essa iniciativa brasileira integra um movimento internacional mais amplo. Em fevereiro do ano passado, a União Africana aprovou uma moratória sobre o abate de jumentos para exportação - medida já adotada no Quênia, na Nigéria e na Tanzânia e que pode se estender para todos os países africanos, dependendo dos resultados de uma reunião nas próximas semanas entre os líderes de cada nação do continente.


Se o Brasil avançar com legislação semelhante, nosso País poderá se alinhar à estratégia do Sul Global de promoção da sustentabilidade, bem-estar animal e proteção de meios de subsistência e de patrimônio genético único.


“Não podemos continuar sendo o elo frágil de uma cadeia internacional que lucra com a morte de um animal essencial para a vida de comunidades vulneráveis. É urgente que o Brasil alinhe sua legislação às boas práticas já adotadas por outros países do Sul Global”, aponta Pierre Barnabé Escodro, professor e pesquisador de Medicina Veterinária, Inovação e Empreendedorismo da Universidade Federal de Alagoas.


Foto: Divulgação/TDS

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.