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Meio Ambiente

Rastreio do gado do Pará corre para ser suspenso depois de se exibir na COP30

Implantado por decreto e com apoio da TNC e da JBS, projeto enfrenta questionamentos legais, baixa adesão e suspeitas de servir apenas para mostrar resultados durante a conferência da ONU.

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  • Da Redação | Coluna Olavo Dutra
  • 15/10/2025, 18:30
Rastreio do gado do Pará corre para ser suspenso depois de se exibir na COP30
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ão será surpresa se, logo após a COP30, o programa de rastreabilidade bovina do Pará - apresentado como pioneiro e ambientalmente transformador - acabar suspenso ou reformulado para se adequar ao padrão nacional lançado pelo Ministério da Agricultura. A iniciativa, que prometia monitorar individualmente as 26 milhões de cabeças do rebanho paraense até 2026, foi criada por decreto do governo estadual, sem passar pela Assembleia Legislativa, o que a torna vulnerável a questionamentos jurídicos.

 

Programa criado por decreto estadual deve se enquadrar ao padrão nacional, mas por enquanto ameaça colapsar a pecuária paraense/Fotos: Agência Pará.

Mais grave: o projeto foi desenhado pela Ong norte-americana The Nature Conservancy (TNC), com participação direta da gigante do setor frigorífico JBS, ambas com atuação e interesses no Pará. Fontes da coluna afirmam que a TNC, que evita aparecer no cenário público, articulou o modelo, cabendo à JBS a execução visível - e o discurso de sustentabilidade - num arranjo em que o governo aparece apenas como avalista.

 Brincos de ouro do boi

Pelo decreto, o produtor que não aderir ao sistema e não marcar o rebanho com os “brincos” de identificação até o fim deste ano ficará impedido de emitir a Guia de Transporte Animal (GTA). Mas, até agora, apenas 1% dos 26 milhões de animais foi inserido no programa, o que indica que o sistema pode colapsar: boi parado, produtor travado, mercado local comprometido.

A JBS diz ter investido R$ 35 milhões na parceria, com doação de 3 milhões de brincos e criação de um “acelerador” para capacitar produtores. O gesto, no entanto, vem acompanhado de uma atuação pouco discreta: equipes contratadas pela empresa visitam prefeituras e propriedades para convencer - ou pressionar - pecuaristas a aderir. No papel, trata-se de assistência técnica; na prática, é um movimento de controle de mercado mascarado de sustentabilidade.

Danos do programa

O programa de rastreabilidade tornou-se o troféu verde que o governo pretende exibir na COP30. Mas sua execução está longe da transparência esperada. Na vitrine, aparecem os resultados: exportação de carne rastreada para a China, parcerias com o Fórum Econômico Mundial, números vistosos em comunicados oficiais. Nos bastidores, porém, os mesmos atores públicos e privados que se alternam entre fiscalizadores e beneficiários da cadeia da carne.

A Adepará, agência de defesa agropecuária do Estado, responsável por fiscalizar o sistema, enfrenta acusações de omissão e conflito de interesse. Casos recentes, como o desaparecimento de cerca de 10 mil cabeças de gado apreendidas em operações conjuntas com o Ibama e a Polícia Federal – avaliadas em R$ 50 milhões – acendem o alerta sobre a integridade dos controles. Quando questionada, a Adepará empurra a responsabilidade para o Ibama, que por sua vez devolve a cobrança ao Estado. Ninguém se explica.

Nó de responsabilidade

A ausência de clareza sobre quem realmente gerencia o rastreamento - se o Estado, a TNC ou a JBS - gera incerteza jurídica e técnica. O Ministério Público Federal acompanha o caso e já cobrou explicações sobre a falta de base legal do programa, criada apenas por decreto, sem previsão orçamentária nem regulamentação de responsabilidade pelos dados coletados.

O novo Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos, lançado em 2024, estabelece regras uniformes para todos os Estados, mas o Pará correu na frente para mostrar serviço antes da conferência climática. O resultado é um modelo que, na prática, pode ter data de validade: 30 de novembro de 2025, último dia da COP30.

Para inglês ver

Com um discurso afinado e promessas de sustentabilidade, o governo tenta transformar o improviso em vitrine. A TNC se apresenta como mentora técnica, a JBS surge como parceira generosa e o Estado posa de vanguarda ambiental. Mas o que se vê é um sistema de rastreabilidade que avança sobre terreno legal incerto, sustentado por interesses cruzados e com baixíssima adesão de quem realmente importa: o pequeno produtor.

Nos bastidores, a percepção é de que o programa cumpre um papel de marketing institucional - e será reajustado, se não desmontado, depois que as câmeras e delegações internacionais deixarem Belém. Até lá, o governo terá o que mostrar: carne “sustentável”, gado com brinco e relatórios coloridos. Depois, como sempre, o pasto é outro.

Papo Reto

O deputado estadual Erick Monteiro (foto) provou da doidice que é fazer negócio com certas pessoas em Capitão Poço: vendeu e recebeu apenas uma parte - a outra é “banda voou”.

• O aplicativo Uber precisa fazer um recall nos veículos, mas, principalmente, nos condutores.

É que virou hábito, entre alguns motoristas, não encerrar a corrida, nas bastasse o cliente se submeter a carros velhos e sujos.

•Uma corrida de R$ 23 não encerrada apareceu na fatura do cartão do cliente ao preço de R$ 206. Quer dizer, o motorista decidiu não encerrar a corrida no desembarque do passageiro. E não há devolução.

José Fernando Gomes Jr, da Agência Nacional de Mineração, recebeu representantes da Agência de Cooperação Internacional do Japão, a Jica, ontem, interessados em conhecer a estrutura da Agência.

•Na oportunidade, o grupo apresentou pautas de interesse mútuo para a COP30, incluindo sustentabilidade, inovação, transparência e prevenção.

Dados da Equifax BoaVista, empresa global de dados, análises e tecnologia, apontam que o Brasil chegou a 60 milhões de consumidores negativados no primeiro semestre de 2025, 10,8% a mais em relação ao mesmo período de 2024. 

• O índice de inadimplência no País - atrasos acima de 90 dias - foi de 5,98%, no primeiro semestre deste ano.

O comprometimento médio da renda dos consumidores brasileiros atingiu 73,7% no período. As regiões Sudeste (79%), Nordeste (78%) e Centro-Oeste (74,9%) ficaram acima da média nacional. 

• Enquanto as regiões Norte (69,3%) e Sul (67,2%) registraram média de comprometimento abaixo da nacional.

A Motorola lançou um teclado em Zapoteco, sua 8ª língua indígena em risco de extinção em aparelhos celulares. 


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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.