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"De carona"

Marituba entrou na ciranda milionária da “Expertise”, mas se faz de inocente

Prefeitura integra lista dos que embarcaram em contratos suspeitos, desviaram recursos do Fundeb e montaram licitações para inglês ver.

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  • Por Olavo Dutra | Colaboradores
  • 28/09/2025, 08:00
Marituba entrou na ciranda milionária da “Expertise”, mas se faz de inocente
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Operação Expertise, deflagrada pela Polícia Federal, trouxe à tona um enredo de corrupção que parece não poupar esfera alguma do poder público no Pará, mas o que chama atenção é a participação direta da Prefeitura de Marituba, que deixou de ser coadjuvante para assumir papel de destaque na engrenagem.

 

Município da Grande Belém deixou de ser coadjuvante para assumir papel relevante na engrenagem desmontada em operação da Polícia Federal/Fotos: Divulgação.

Segundo a decisão judicial que autorizou a operação, a prefeitura, por meio da Secretaria de Educação (Semed) e da Secretaria de Saúde (Sesau), aderiu a atas de registro de preços de outros órgãos, numa modalidade de contratação que deveria ser exceção, mas virou regra para burlar licitações. Resultado: quase R$ 40 milhões em contratos, boa parte com indícios de fraude e desvio.

Carona e ‘fantasmas’

O caso mais vistoso envolve a Líder Engenharia, empresa que venceu pregão da Polícia Científica do Estado em 2022. O edital, porém, vedava expressamente qualquer adesão à ata de registro de preços. Mas, como a esperteza anda de mãos dadas com a malandragem, a Prefeitura de Marituba resolveu embarcar mesmo assim.

Em 4 de julho de 2022, a Semed assinou solicitação de contratação de R$ 20,8 milhões com a Líder Engenharia com um detalhe: a ata ainda nem havia sido ratificada - o que só ocorreria nove dias depois. É como se os gestores municipais tivessem bola de cristal para saber o valor exato que seria homologado. Ironia pouca é bobagem.

Para completar a maracutaia, o contrato foi prorrogado até 2024, mesmo após a ata já ter expirado. E, para coroar, Marituba contratou 100% dos serviços previstos, quando a lei limita a 50%, o que pode ser requisitado em “carona”.

Educação no ralo

A cereja do bolo é a origem do dinheiro: R$ 13,3 milhões saíram diretamente do Fundeb, fundo federal destinado a bancar a educação básica. Em vez de chegar às salas de aula, o dinheiro foi parar nos cofres da Líder Engenharia, que, segundo a investigação, sacava em espécie e distribuía a propina em mochilas, malas e até no estacionamento de órgãos públicos.

Na ponta do lápis, a Prefeitura de Marituba assumiu compromissos de quase R$ 21 milhões com a empresa. Quanto aos serviços, bem, a Controladoria-Geral da União foi taxativa: não há comprovação. O que houve foi uma encenação com documentos, atestados e relatórios de serviços que simplesmente não existiram.

Anatomia da fraude

Nesse enredo, surge um personagem central: Ana Cláudia Duarte Lopes, servidora da Semed. Segundo as investigações, Ana Cláudia, arquiteta de formação, desenhou, literalmente, a engenharia da fraude. Era ordenadora de despesas, fiscal de contrato e responsável pela liquidação de pagamentos. Em suma, tinha a caneta e o carimbo que faziam a roda girar.

De acordo com os autos, Ana Cláudia atestava serviços não prestados, autorizava pagamentos e movimentava valores em contas pessoais incompatíveis com sua renda. Só dela, a PF identificou movimentação de R$ 850 mil, o suficiente para transformar uma servidora de carreira em figura-chave da organização criminosa.

Velhas manobras

A Prefeitura de Marituba também aparece em outra façanha: a adesão à Ata nº 01/2021, usada para justificar contratações da Semed e da Sesau. O Tribunal de Contas e a CGU apontaram uma lista de irregularidades: incompatibilidade de objetos entre a contratante, escolas e unidades de saúde; ausência de pesquisa de preços; e adoção do critério de “menor preço global”, inviável para futuras “caronas”.

Na prática, o mesmo contrato foi usado para consertar teto de escola, trocar piso de posto de saúde e reformar prédio legislativo - tudo com os mesmos preços e planilhas. O detalhe técnico virou desculpa perfeita para multiplicar aditivos e inflar valores sem justificativa plausível.

O núcleo Marituba

A PF fala em “núcleos” da organização criminosa. Um deles, específico, é o Núcleo Marituba, formado por gestores e servidores municipais que funcionavam como operadores locais. O município assumiu papel relevante na engrenagem: ao lado de Assembleia Legislativa, Detran e Polícia Científica, ajudou a movimentar parte dos R$ 198 milhões desviados entre 2018 e 2025.

Desse total, quase R$ 40 milhões têm origem em Marituba. Em valores relativos, não é pouco: trata-se de uma cidade de médio porte, com orçamento bem mais modesto que o do Estado. O impacto sobre a população é devastador.

Ao fim e ao cabo...

A Operação Expertise deixa claro que Marituba não foi vítima inocente de um esquema arquitetado em Belém como quer fazer crer, inclusive perante o Juízo da comarca. Ao contrário, seus gestores participaram ativamente da ciranda milionária. Aderiram a atas proibidas, assinaram contratos superfaturados, atestaram serviços inexistentes e drenaram recursos da Educação para a corrupção.

Papo Reto

Anote esses nomes: Fax, Gamma, Ampla e Voxx.

•Em certos festivais para escolha de agências de publicidade em Belém, uma proposta foi parar no Detran, órgão que fiscaliza o trânsito no Estado.

Pelo sim, pelo não, a falta de educação no trânsito das propostas se esparrama até onde a vista não alcança - e as veias da América Latina seguem abertas.

•Uma providencial corda de plástico sustenta parte do muro do Bosque Rodrigues Alves, pelo lado da travessa Lomas Valentinas. 

Não fosse esse suporte, amarrado a uma árvore de bom tamanho, o muro, bem arruinado, já estaria no chão, dando uma trabalheira e tanto para o prefeito Igor Normando (foto) remendar.

•Aliás, moradores das proximidades do bosque comentam que o local não mereceu a atenção das autoridades nem para uma pequena reforma para a COP 30. E lamentam a falta de visão dos administradores. 

Contadores e usuários do sistema estão indignados com a Secretaria de Finanças da Prefeitura de Belém, a Sefin. Não conseguem a impressão ou expedição de Certidão Negativa de Débitos há pelo menos três meses.

• Como robôs, os servidores da Secretaria repetem todos os dias a mesma cantilena: a culpa é do “novo sistema” de informática implantado na Secretaria. 

Fafá de Belém e o pianista João Carlos Martins se apresentam no dia 14 de outubro, no Theatro da Paz, com um show especial para o Círio deste ano. O repertório será de autores paraenses. 

•Veículos de imprensa vendem a ideia de rusgas entre Hugo Motta e Davi Alcolumbre por causa do enterro solene da PEC da Blindagem. É conversa para boi dormir.

•No depoimento mais aguardado da CPMI do INSS, o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes fez um desabafo. Criticou a associação de seu nome ao que chamou de "personagem fictício". 

"O Careca do INSS' não reflete quem eu sou", afirmou. Talvez seja a primeira vez que alguém tenta provar na CPI que não é o próprio meme.

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.