Repasse milionário à Ong ligada ao entorno de Marina Silva expõe fragilidades na governança dos recursos “para manter a floresta em pé”.

COP30 ainda ecoa nos discursos oficiais como vitrine do compromisso brasileiro com a agenda ambiental global. Mas, passada a retórica e feitos os balanços, a conta não fecha. Os recursos prometidos por governos estrangeiros ficaram aquém do esperado, a frustração foi pública e o Planalto tratou de culpar a “falta de ambição” dos países ricos. Enquanto isso, o uso do dinheiro que já existe passou a ser questionado dentro de casa.

É nesse ponto que entra o repasse de R$ 35 milhões do Fundo Amazônia a uma ONG com vínculos institucionais com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, hoje sob análise da CPI das ONGs no Congresso Nacional. O caso, que circulou inicialmente nas redes sociais, ganhou tração política e levantou uma pergunta incômoda: quem fiscaliza os fiscalizadores da floresta?
O Fundo Amazônia foi criado com uma missão clara: financiar ações concretas de preservação ambiental, combate ao desmatamento e fortalecimento de comunidades tradicionais. Não é um fundo para retórica, nem para marketing verde. A suspeita levantada na CPI - ainda sem conclusão formal - é que parte relevante dos recursos teria sido consumida por despesas administrativas, como consultorias, passagens aéreas e serviços terceirizados.
Nada disso é, por definição, ilegal. O problema não está apenas na rubrica contábil, mas na combinação entre valores elevados, vínculos políticos e ausência de transparência acessível ao público. Em um país onde o discurso ambiental serve tanto à diplomacia quanto à política doméstica, a linha entre gestão técnica e aparelhamento simbólico é tênue.
A Ong beneficiada mantém relação histórica com quadros centrais do ambientalismo brasileiro, incluindo Marina Silva, que figura como conselheira honorária, e João Paulo Capobianco, secretário-executivo do ministério e figura recorrente nos bastidores da política ambiental. Não se trata de acusar enriquecimento pessoal - isso não está posto -, mas de reconhecer um ambiente de promiscuidade institucional, onde as mesmas pessoas circulam entre governo, Ongs, fundos e organismos internacionais.
Durante a COP30, o governo brasileiro insistiu na narrativa de que faltam recursos internacionais para “manter a floresta em pé”. A recusa ou timidez dos repasses foi tratada como insensibilidade climática do Norte global. O episódio do Fundo Amazônia, porém, alimenta a desconfiança externa: como exigir mais dinheiro se o uso do que já existe não é plenamente compreendido nem consensual?
A Amazônia virou, há anos, ativo político, diplomático e simbólico. Ongs operam como mediadoras entre governos estrangeiros e políticas públicas nacionais. Isso exige um grau de transparência acima da média. Qualquer ruído, por menor que seja, enfraquece o discurso brasileiro no exterior e oferece munição a críticos que veem o ambientalismo institucional como um negócio - não como missão.
É evidente que a CPI das Ongs também opera sob lógica política. Parte de seus integrantes não esconde hostilidade ideológica ao Ministério do Meio Ambiente e ao próprio conceito de governança climática. Ainda assim, isso não invalida a necessidade de respostas claras, documentos acessíveis e critérios objetivos para a aplicação dos recursos.
O silêncio, a demora ou o excesso de explicações técnicas apenas reforçam a sensação de que existe algo a esconder - mesmo quando não há. Em política, percepção é fato.
O maior risco para Marina Silva não é jurídico, é simbólico. A ministra construiu sua trajetória sobre a ideia de ética, coerência e distância do poder tradicional. Qualquer sombra de conflito de interesses atinge o coração dessa narrativa. Para o governo, o risco é mais amplo: enfraquecer a credibilidade do Brasil justamente quando tenta se vender como líder ambiental global.
Se o Fundo Amazônia é instrumento estratégico, precisa operar com luz total, sem zonas de conforto, sem círculos fechados e sem a sensação - justa ou injusta - de que o dinheiro gira sempre nos mesmos ambientes.
Manter a floresta em pé exige recursos. Manter a confiança, mais ainda.

•Noves fora alguns radicais de plantão, parece que chegaram a um bom entendimento a direção e os servidores do Hospital Ofir Loyola quanto ao estacionamento de motos em área interna.
•Por falar no Ofir Loyola, a inauguração da nova Unidade de Atendimento Imediato, segunda-feira, pelo governador Helder Barbalho (foto), integrada ao serviço de urgência-emergência, exclusiva a pacientes graves, agregou 19 novos leitos, ampliando a capacidade assistencial da instituição para oferecer mais agilidade e melhor acolhimento aos usuários do SUS.
•As universidades federais brasileiras terão um corte expressivo de quase meio bilhão de reais no orçamento de 2026, o maior da história recente dessas instituições.
•O valor destinado a despesas essenciais, como manutenção, bolsas e assistência estudantil, será brutalmente reduzido, ficando abaixo do orçamento executado em 2025.
•A tendência assombra reitores e especialistas, que alertam: atividades de ensino, pesquisa e extensão, além do apoio a estudantes em situação de vulnerabilidade serão afetados.
•Um momento crítico para as universidades públicas, que enfrentam desafios crescentes para manter suas atividades e garantir a qualidade do ensino.
•Seria cômico se não fosse trágico: ao mesmo tempo que busca, em nome do meio ambiente, criar barreiras para inviabilizar economicamente a tilápia, o governo Lula anuncia costurar acordo com o Paraguai para abrir a produção desse peixe no lago de Itaipu.
•A correria para tentar "mostrar serviço", do lado daqui, é porque o Senado do Paraguai aprovou a lei que autoriza a criação de tilápias no lado deles do reservatório, destravando um impasse histórico representado pela ausência de um marco legal paraguaio, que impedia qualquer operação binacional no lago compartilhado com o Brasil.
Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
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