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COP sem rumo

Frustrações, embates e promessa de nova rodada sobre fósseis fecham Conferência

Documento final ignora "Mapa do caminho", delegações reclamam falta de transparência e Colômbia anuncia conferência própria para 2026.

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  • Da Redação | Coluna Olavo Dutra
  • 25/11/2025, 17:00
Frustrações, embates e promessa de nova rodada sobre fósseis fecham Conferência
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COP30 terminou em Belém no sábado, 22, deixando um rastro de frustração entre delegados que negociaram durante 13 dias. A maior decepção recaiu sobre o documento final da Conferência, que sequer menciona o “Mapa do caminho” - antes celebrado como grande avanço - e deixa sem rumo a negociação central: a eliminação gradativa dos combustíveis fósseis.

 

Maior decepção recaiu sobre o documento final da Conferência, que sequer menciona o “Mapa do caminho”/Fotos: Divulgação.

Os textos aprovados refletem o ambiente de disputas entre governos que marcou toda a conferência. Houve avanços pontuais, mas faltou ambição. Representantes dos 195 países votaram o pacote final apenas às 8h da manhã de sábado, após uma madrugada de negociações tensas e pouco consenso.

Colômbia rompe inércia

Entre os mais insatisfeitos, a Colômbia foi a primeira a reagir. Sua delegação anunciou que organizará, junto à Holanda, uma conferência internacional exclusivamente dedicada à eliminação dos combustíveis fósseis, prevista para abril de 2026 em Santa Marta.

O gesto escancarou o incômodo de países que consideraram a COP30 tímida para a urgência climática.

O texto final do Mutirão - peça central das decisões - cria estruturas de cooperação e prevê triplicar o financiamento para adaptação até 2035. Mas, de novo, não cita fósseis, ponto que levou o presidente da COP30, André do Lago, a assumir publicamente o compromisso de manter o debate vivo.

“Estamos cansados; sabemos que muitos queriam mais ambição. A sociedade vai exigir mais”, disse. Prometeu elaborar dois “mapas”: um para reverter o desmatamento e outro para orientar a transição para longe dos combustíveis fósseis.

Tensão nossa bastidores

O clima de exaustão abriu espaço para episódios constrangedores. Em uma pausa das negociações, delegados da Rússia e da Argentina quase trocaram insultos após os russos reclamarem que os argentinos “se comportavam como crianças”.

A Argentina, por sua vez, registrou oficialmente objeções à forma como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram incorporados ao texto. O Chile também formalizou sua insatisfação, alegando que os procedimentos previstos não foram seguidos durante a negociação.

O Panamá engrossou o coro: disse não ter sido ouvido, criticou a falta de transparência e discordou do pacote sobre adaptação climática, afirmando que o trecho financeiro carece de clareza e deixa o resultado “aquém do necessário”. O país recebeu apoio de Uruguai e Colômbia.

O ponto sensível

Outro ponto sensível foi o Objetivo Global de Adaptação (GGA), que estabelece indicadores globais para medir resiliência e vulnerabilidades. Embora aprovado, gerou forte reação de países latino-americanos e africanos, que classificaram o processo como pouco transparente e distante das necessidades dos países em desenvolvimento.

A ministra Marina Silva afirmou que a COP30 trouxe “avanços relevantes, porém, aquém da urgência exigida pela crise climática”. Ganhou aplausos de pé ao lamentar que o “Mapa do caminho” para deter o desmatamento e ampliar a transição energética não tenha entrado nas decisões por falta de consenso.


Enquanto isso, na foz…

À margem das negociações, mas no centro das preocupações ambientais, a Petrobras informou que iniciou a perfuração do poço na bacia da Foz do Amazonas em 20 de outubro - poucas horas após receber licença do Ibama.

A operação ocorre a 170 quilômetros da costa do Amapá, e ampliou o contraste entre o discurso climático do evento e a realidade energética brasileira.

A COP30 terminou com avanços técnicos, promessas renovadas e um pacote robusto de decisões - mas ficou longe de entregar o caminho claro para além dos combustíveis fósseis.

Papo Reto

·O presidente da Câmara, Hugo Motta (foto), reforçou em suas redes sociais a importância do PL Antifacção, e rebateu a tese do governo de que o texto pode enfraquecer a Polícia Federal. 

·Fernando Haddad afirmou que o substitutivo do PL Antifacção aprovado pela Câmara dos Deputados enfraquece o combate ao crime. 

·O Conselho de Administração do BRB contratou auditoria externa especializada para apurar possíveis irregularidades. 

·Dois empresários investigados por fraudes financeiras no Banco Master foram soltos na noite de quinta.

·Após as operações policiais como a Carbono Oculto - e agora no caso do Banco Master - costuma haver um período de aparente calmaria. É quando a polícia recolhe tudo, mergulha nos autos e começa a destrinchar o emaranhado. 

·Mas, aqui, a maré promete mudar rápido. Além da papelada, há celulares apreendidos - especialmente o de Daniel Vorcaro, cuja memória em megabytes deve render mais capítulos que muito inquérito famoso. 

·Ou seja: a quietude é só de superfície. Muita água ainda vai passar debaixo dessa ponte.

·No caso do Banco Master, há um ponto que não pode passar em branco: o Banco Central também terá de se explicar - e talvez, queira ou não, acabe no foco do escrutínio. Explica-se.

·No mercado financeiro, era voz corrente que, sempre que os bancos se reuniam com o BC para alertar sobre a situação do Master, minutos depois Daniel Vorcaro já sabia. 

·De modo que, vindo agora tudo à tona, nada disso dispensa apuração rigorosa, pois participação, direta ou indireta, houve. 

·Com efeito, o fluxo de informação não brota do nada. E, para um órgão que busca se afirmar como regulador de primeira linha, o Banco Central terá de investigar não apenas o sistema, mas a si próprio. 

·Se for preciso cortar na própria carne, que corte. É assim que se mantém a autoridade.



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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.