Enquanto beneficiários disputam cadeiras e paciência, governo empaca no serviço do “Pará Digital”, de R$ 99 milhões.
nquanto o governo ostenta a modernização digital, os segurados do plano estadual madrugam em filas e enfrentam a precariedade de um sistema que mais humilha do que atende. No Pará, modernização digital rima com atraso analógico.
Segunda-feira, 6h45 da manhã, avenida Almirante Barroso, em Belém. No posto de atendimento do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado, o Iasep, todas as 30 cadeiras improvisadas na garagem já estavam ocupadas. O sol ainda mal havia dado as caras, mas idosos, aposentados e servidores doentes já disputavam espaço e paciência. Quem não conseguiu cadeira, se resignava em pé. Outros estendiam a fila até a calçada, numa cena que lembra mais um pronto-socorro lotado do que um serviço de saúde.
O ritual, que começa antes das sete, só ganha ritmo a partir das oito, quando segurados são conduzidos à sala de coleta da biometria. Até lá, a espera é pura penúria. Idosos com dificuldade de locomoção tentam se apoiar em parentes mais jovens. Quem tem sorte consegue uma das duas cadeiras de rodas disponíveis. Sorte é a palavra certa: o que deveria ser um direito virou loteria.
O cadastramento biométrico do Iasep integra o pomposo programa Pará Digital, vitrine tecnológica do governo estadual. Na propaganda, o discurso é sedutor: serviços online, modernidade e praticidade. Na prática, o futuro digital do Pará tem cheiro de mofo e gosto de espera.
Enquanto bancos permitem que clientes cadastrem digitais e fotos diretamente no celular, os segurados do Iasep precisam madrugar em Belém ou enfrentar deslocamentos até os shoppings e estações cidadania. Vale tudo: fila no Pátio Belém, espera no Bosque Grão Pará ou peregrinação até Icoaraci. A tecnologia, no caso, exige sacrifício analógico.
E há mais: a biometria não é definitiva. Usuários relatam ter feito o procedimento duas vezes em menos de três anos. Uma servidora contou que, ao tentar marcar consulta, o sistema simplesmente informou que sua digital não constava no cadastro. Volta tudo à estaca zero.
Cada fila tem sua própria narrativa de desgaste. Duas amigas, vindas de Barcarena, chegaram às 5h da manhã para garantir vaga. Uma delas já havia tentado coletar a biometria três vezes, sem sucesso, devido à queda do sistema. “Aqui a gente não sabe se volta para casa com a biometria feita ou com mais uma viagem perdida”, resumiu.
Outro senhor contou que, quando faltavam apenas quatro pessoas para serem atendidas, o sistema caiu e todos foram dispensados. “Questionei se não podiam esperar o retorno, mas disseram que era melhor voltar outro dia. E aqui estou, de novo, sem resultado.”
Ainda mais dramática é a situação dos que enfrentam dificuldades de locomoção. Uma senhora de 82 anos, em recuperação de um AVC, foi levada em cadeira de rodas. “Meus cadastros no INSS sempre foram feitos por aplicativo. O Iasep, não. Aqui eu tenho que vir pessoalmente, mesmo sem condições físicas”, desabafou. A fala dela sintetiza o descompasso entre discurso tecnológico e prática desumana.
Enquanto segurados amargam filas e humilhações, os bastidores revelam cifras robustas. A Prodepa, empresa estadual de tecnologia, contratou a ISM Tecnologia Ltda. por meio de pregão eletrônico realizado em maio de 2025. O valor global: R$ 99,1 milhões para 24 meses de contrato.
A mesma empresa já é alvo da atenção do Ministério Público do Pará, que solicitou um cronograma detalhado da implantação dos novos sistemas. Na prática, o sistema que deveria garantir agilidade e confiabilidade entrega quedas frequentes e filas intermináveis. A pergunta que ecoa nas filas é inevitável: como um contrato de quase R$ 100 milhões não é capaz de evitar que idosos madruguem em frente ao portão fechado?
Não bastasse a via-crúcis da biometria, os segurados ainda enfrentam outro calvário: a falta de médicos credenciados. Uma usuária relatou que, mesmo com o cadastro biométrico em dia, não encontrou alergista disponível. O resultado? Desembolsar R$ 300 em consulta particular. “É uma humilhação pagar um plano de saúde e não conseguir atendimento”, protestou.
Em outras especialidades a situação não é diferente. Planos particulares incham, enquanto o Iasep esvazia. Servidores públicos que já têm desconto em folha precisam abrir a carteira outra vez para conseguir atendimento. É o paradoxo da assistência que desassistiu.
O discurso oficial insiste em celebrar a digitalização. O Pará Digital é apresentado como prova de eficiência e modernidade. Na realidade, o que se vê é um serviço que trata o servidor como obstáculo, não como beneficiário. A cada queda do sistema, a cada idoso em pé à espera de senha, a promessa de futuro se dissolve em ironia.
A modernização vendida como revolução digital transformou-se numa rotina medieval: acordar de madrugada, disputar cadeira, rezar para o sistema não cair e ainda enfrentar a incerteza de médicos que abandonam a rede credenciada.
No fim, o que o Iasep entrega não é tecnologia, mas a experiência amarga da humilhação coletiva. Os segurados colecionam senhas, filas e histórias de descaso.
•Verdade que o Ministério das Comunicações determinou a cassação da licença da rádio Forte FM, no Amapá, alegando uso irregular da outorga e prática de “proselitismo político”?
•Bem, a emissora é ligada ao ex-deputado Valdenor Guedes, adversário de Davi Alcolumbre (foto), do União Brasil e aliado do prefeito de Macapá, Antônio Furlan MDB.
•Segundo o Ministério, a rádio transmitia conteúdos que destacavam políticos locais em vez de cumprir a função educativa prevista em sua concessão.
•Relatórios da Anatel apontaram que os programas tinham exaltações pessoais e propagandas sem caráter jornalístico, além de irregularidades como publicidade privada e conteúdos religiosos.
•Ontem, o Banco Central disparou novo alerta de ataque hacker contra sistema bancário nacional, o quarto só este ano.
•O que se deduz é que a indústria global da fraude cibernética se institucionalizou de vez no planeta, cada vez mais criativa e estruturada para não dar sossego a ninguém.
•Em um País em que o principal órgão estatístico caiu em descrédito por sua própria "ala técnica", o governo Lula celebra o "recorde de empregos gerados".
•Mais uma da série "se a inveja matasse...: o município de Castro, no Paraná, considerado a capital nacional do alimento - é responsável pela ordenha anual de mais de 420 milhões de litros de leite -, está ganhando um complexo para garantir a formação das próximas gerações de produtores.
•Leitor do Jurunas-Cidade Velha se queixa da ‘tortura’ imposta pela Prefeitura de Belém a moradores do bairro antes, durante e depois da “Domingueira, na Praça Amazonas.
•A barulheira começou por volta das 19h, testando o som com o volume absurdamente alto, e seguiu até a noite acabar.
Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
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