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Devoção e desordem

Entre a fé e os maus hábitos, Círio testa os limites de Belém a um mês da COP30

Novo arcebispo conquista o coração dos fiéis, mas a combinação de velhos hábitos e falta de infraestrutura expõe a cidade ao caos durante o Círio.

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  • Da Redação | Coluna Olavo Dutra
  • 14/10/2025, 17:00
Entre a fé e os maus hábitos, Círio testa os limites de Belém a um mês da COP30
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á pouco mais de dois meses como titular da Arquidiocese de Belém, Dom Júlio Akamine passou com louvor em seu primeiro grande teste à frente do Círio de Nazaré. À vontade, enérgico e sempre sorridente, o arcebispo - primeiro de ascendência nipônica - demonstrou disposição de sobra para as longas romarias e rapidamente se tornou presença carismática entre os devotos.

 

Carinhosamente chamado de “bispo dorama”, referência aos dramas japoneses televisivos, Dom Júlio caiu na simpatia dos fiéis - e fez até selfie/Fotos: Divulgação.

Na solenidade de descida da imagem de Nossa Senhora, Dom Júlio introduziu uma novidade que encantou o público: pediu que a resposta ao tradicional “Viva Nossa Senhora de Nazaré” fosse “Rainha!”. O gesto pegou de imediato. Atento ao conforto dos fiéis, a maioria com mais de 50 anos, também antecipou o horário da cerimônia para as 12h30, percebendo o desconforto causado pelo calor e pela superlotação da Basílica.

O novo arcebispo parece em casa na capital paraense - que abriga a terceira maior comunidade japonesa do País. Frequentador assíduo da Associação Nipo-Brasileira, é recebido com festa e reverências típicas da cultura oriental. Sua simpatia rendeu até meme: o “bispo dorama”, personagem de um Círio que misturou fé, humor e modernidade.

A prova da cidade

Enquanto Dom Júlio conquistava corações, Belém tropeçava nos próprios hábitos e na própria infraestrutura. A comissão precursora da ONU, de visita à capital, talvez tenha visto no Círio uma amostra involuntária dos desafios da COP30.

Nas ruas, cenas constrangedoras: homens urinando à luz do dia, inclusive no entorno da Basílica, transformaram esquinas nobres - como Braz de Aguiar e Generalíssimo Deodoro - em banheiros improvisados. Mais do que o odor desagradável, ficou evidente que velhos hábitos se aliam à ausência de estruturas da cidade para a circulação de tanta gente em um só dia.

O colapso se estendeu à mobilidade: corridas de aplicativo dispararam de R$ 15 para R$ 50, com espera interminável. Muitos optaram por caminhar, arrastando promessas e paciência. Para completar, houve apagão nos sinais de celular - sem comunicação, sem transporte e sem ordem.

O dever de casa

Entre o carisma do novo pastor e o descompasso urbano, o Círio expôs a dupla face de Belém: fé que move montanhas e cidade que emperra em logísticas básicas. Se o evento religioso serviu de ensaio para a COP30, o resultado foi claro - Dom Júlio passou; Belém foi reprovada.

Agora, com a fé testada e a cidade exposta diante do mundo, resta cumprir o prometido: transformar o milagre de Nazaré em exemplo de organização, e não em alerta para o caos.

OLHO NO DESTAQUE
Dom Júlio Akamine, o “bispo dorama”, deu leveza e carisma ao Círio. Já Belém mostrou peso: trânsito, improviso e velhos hábitos sem suporte urbano. Um retrato fiel - e preocupante - antes da COP30.
•O Bispo Dorama
Dom Júlio Akamine, paulistano de ascendência japonesa, virou sensação nas redes: seu jeito afável e sorriso constante renderam memes e o apelido de “bispo dorama”, referência aos dramas japoneses televisivos.
•Maus hábitos e estrutura precária
A esquina da Braz de Aguiar com Generalíssimo Deodoro, área nobre de Belém, virou ponto de vexame durante as romarias. Velhos hábitos e a ausência de infraestrutura para acomodar a multidão escancaram a persistência de falhas urbanas em dias de festa.

Papo Reto

•Pode-se dizer que a sede do Clube do Remo foi “arrendada” no domingo do Círio. Sócios proprietários e remidos do clube foram simplesmente barrados na para assistir à Trasladação e ao Círio de Nazaré.

O porteiro não deixou ninguém entrar, alegando que o clube estava ‘alugado para quem comprou ingressos’. Nesse dia, poucos conseguiram falar por telefone com o presidente Tonhão (foto). E muita gente ligou.

•Vários associados, surpreendidos com a situação, lamentaram o episódio e puderam constatar como o Remo, que privilegia o futebol, despreza seu lado social.

Quer dizer, quando há eleição os dirigentes lembram que o sócio existe, segundo as manifestações dos associados barrados. 

•A festa da Padroeira do Brasil reuniu cerca de 494 mil fiéis em Aparecida, interior de São Paulo - ‘um pouco’ quando comparado com o "mar de gente" no pelo Círio de Nazaré, no último domingo.

"Alerta Lilás": Em todo o País, a operação da PRF conseguiu prender 83 fugitivos em casos de violência contra mulheres, sendo 54 com mandados de prisão por pensão alimentícia, sete por estupro de vulnerável e sete por homicídio, feminicídio e tentativa de homicídio.

•Já que 2026 é ano eleitoral e viu derrubada na Câmara a MP 1.303, na última quarta, o governo federal entrou em modo desespero para recuperar o que já contava arrancar das bets, fintechs e créditos de impostos.

O MEC travou por quatro meses a abertura de novos cursos de medicina em faculdades particulares.

•Oposição já está em campo para derrubar decreto de Lula que aumenta poder e mordomias de Janja, que ganhou gabinete e quase 200 assessores especiais para “apoiar o cônjuge do Presidente da República no exercício das atividades de interesse público”.

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.