Numa aposta de alto risco, o governo espera que os benefícios econômicos e políticos internos superem os custos da depreciação da imagem internacional
Está mais do que claro que a decisão de anunciar a exploração de petróleo na Margem Equatorial não foi obra do acaso. O IBAMA finalmente sinalizou, esta semana, que a Petrobras cumpriu todas as exigências técnicas para iniciar a busca por óleo e gás em águas profundas, passo crucial que libera ela e outras empresas para iniciarem a fase de exploração, que envolve a perfuração de poços para confirmar a existência de petróleo na região, já que as reservas estimadas são colossais. O que se espera é que, potencialmente, seja a nova fronteira petrolífera do País.
A estratégia de "fato consumado" consolidada no anúncio desta semana revela que o governo Lula tenta queimar etapas e criar um "fait accompli" (fato consumado) antes da COP30, ao avançar com o processo de exploração para reduzir a pressão internacional durante a Conferência do Clima da ONU.
Ou seja, quando a COP30 começar, daqui duas semanas, as atividades de exploração já estarão em pleno curso, tornando mais difícil para a comunidade internacional pressionar por um cancelamento puro e simples. Portanto, espera o governo que o debate mude do "se deve explorar" para um "como explorar”.
A grande verdade é que Lula busca sinalizar aos investidores e à própria Petrobras que o projeto é sério e de fato avança, apesar das controvérsias, garantindo assim segurança jurídica e atratividade para os futuros leilões.
Save-se que o governo Lula é uma coalizão complexa que, de um lado, carrega a ala ambientalista (representada pela ministra Marina Silva) e, de outro, a ala desenvolvimentista e os setores militares e industriais, de alguma forma ligados à Petrobras.
Especialistas avaliam que as pressões da ala desenvolvimentista, que defende a soberania nacional sobre os recursos e o desenvolvimento econômico da região Norte, mostrou sua força e eficácia no tabuleiro político.
Ao anunciar, justo agora, a liberação da exploração, o governo controla o "timing" da notícia, podendo estruturar a comunicação para enfatizar supostos "rigores técnicos" e "compromissos ambientais" do projeto. Ou seja, o governo, claro, tentará modular sua narrativa, convergindo os debates para o campo de uma suposta "exploração responsável”.
Claro que o risco para o governo em relação à repercussão na COP é calculado, pois Lula tentará posar de aralto da floresta, da bioeconomia e da transição energética, mas investirá bilhões na busca por mais combustíveis fósseis em uma região de extrema sensibilidade ecológica próxima ao bioma Amazônico.
Essa contradição, claro, podem macular a credibilidade do Brasil nas negociações climáticas, diante de um possível protesto massivo de ONGs, cientistas e países insulares, durante a conferência do clima, transformando o evento, que era para ser uma vitória, em um palco de embaraço internacional.
Trata-se, sim, de uma aposta de alto risco, onde o governo espera que os benefícios econômicos e políticos internos superem os custos diplomáticos e de imagem internacional. O sucesso ou fracasso dessa estratégia ficará claro durante a própria COP30.
Foto: Agência Brasil
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Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
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