O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deu sinal verde para a adesão da Suécia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e seu governo vai promover a aprovação do processo no Parlamento turco, anunciou o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg. Mais cedo, Erdogan havia condicionado a aprovação do pedido sueco à adesão da Turquia à União Europeia (UE), um processo que já se arrasta por duas décadas.
"Este é um dia histórico”, disse Stoltenberg em entrevista coletiva em Vilna, na Lituânia, depois de se encontrar com Erdogan e o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, na véspera da cúpula anual da Otan. "Tenho o prazer de anunciar que, como resultado (da reunião), o presidente Erdogan concordou em enviar o Protocolo de Adesão da Suécia à Grande Assembleia Nacional o mais rápido possível e trabalhar em conjunto com a Assembleia para garantir a ratificação”.
Diante da nova exigência turca, foi organizado às pressas um encontro entre Erdogan e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que preside o órgão da UE que representa os governos dos 27 países do bloco, para tentar discutir formas de "revitalizar" a relação bilateral.
Após a reunião com o mandatário turco, Michel afirmou, no Twitter, que haviam explorado "oportunidades para trazer a cooperação entre a UE e a Turquia de volta ao primeiro plano", acrescentando que "convidou o alto representante [o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell] e a Comissão Europeia a apresentarem um relatório com uma visão sobre como operar de forma estratégica e com vistas ao futuro".
Após o anúncio de que a Turquia enfim desbloqueou o processo de entrada da Suécia na aliança militar, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou estar ansioso para receber o primeiro-ministro sueco e a Suécia como aliada da Otan. "Estou disposto a trabalhar com o presidente Erdogan e a Turquia para melhorar a defesa e a dissuasão na área euroatlântica", acrescentou o americano em um comunicado.
Mais cedo, os EUA haviam se manifestado após as declarações de Erdogan, afirmando que apoiam o desejo da Turquia de ingressar no bloco europeu, mas que isso não deveria ser um fator impeditivo para a aprovação da adesão de Estocolmo à Otan. Um comentário semelhante também foi feito pelo chanceler alemão, Olaf Scholz, que afirmou que a Suécia cumpria todos os requisitos para a entrada na aliança.
Com o aval da Turquia, a Suécia será o 32º país a fazer parte do bloco militar liderado pelos Estados Unidos e criado no fim da Segunda Guerra Mundial para conter o avanço da influência soviética em direção ao Ocidente. A adesão representa o ápice de uma virada histórica, mas também uma derrota estratégica para a Rússia, que classifica a expansão da aliança como um "ataque à segurança" do país.
A Ucrânia, por sua vez, também tem cobrado insistentemente maior celeridade no processo de adesão, iniciado em 2002, além de pedir garantias de segurança até que isso se torne realidade. A entrada de Kiev na aliança, contudo, é uma linha vermelha absoluta para Moscou.
Entrada na UE pendente há décadas
A Turquia apresentou sua candidatura para ingressar na UE em 1987 e foi considerada elegível em 1999, embora não tenha havido praticamente nenhum progresso nessa direção na última década.
As conversas para a adesão começaram em 2005, mas até maio de 2016 apenas 16 dos 35 capítulos que os pleiteantes precisam cumprir para completar o processo de ascensão haviam sido abertos. Só um tinha sido completado. Em 2019, uma comissão do Parlamento Europeu votou para suspender o processo de candidatura turca e a situação está no limbo desde então.
As violações de direitos humanos e o retrocesso democrático no país, contudo, falaram mais alto e são motivos frequentes de críticas europeias. Pelo levantamento feito pela organização Freedom House, o país marca 32 de 100 pontos possíveis, o que faz com que seja caracterizado como uma nação "não livre". O Brasil, para fins comparativos, marcou 72 pontos.
Presidente desde 2002, Erdogan tornou-se gradualmente mais autoritário nos últimos anos, perpetuando-se no poder por meio de mudanças constitucionais e da perseguição de críticos, que se intensificou após uma tentativa fracassada de golpe em 2016. Isso, argumentam os europeus, vai na contramão da democracia como um dos princípios do bloco.
(Com AFP e El País.)