Após um debate de mais de 12 horas, o
Senado argentino aprovou no fim da noite da quarta-feira, 12, o texto-base do
pacote de reformas conhecido como "lei ônibus", crucial para o
presidente ultraliberal Javier Milei. Após um empate e várias concessões do
governo, o voto decisivo em favor do projeto foi dado pela presidente do Senado
e vice-presidente, Victoria Villarruel. Os senadores continuaram com a votação
dos artigos da lei, em separado, muitos dos quais objeto de árduas negociações.
Os debates seguiram durante a madrugada.
A votação ocorreu em meio a graves incidentes entre manifestantes e policiais
em frente ao Congresso na quarta. O confronto deixou carros incendiados e
vários feridos. Cinco deputados da oposição expostos a gás lacrimogêneo foram
levados a hospitais.
A Lei de Bases inclui, em seus 238 artigos, incentivos a grandes investimentos
por 30 anos, uma reforma trabalhista, privatizações e uma polêmica delegação de
poderes legislativos ao presidente ultraliberal. Em busca do apoio legislativo,
o governo aceitou retirar a Aerolíneas Argentinas da lista de empresas a serem
privatizadas. O Correio Argentino e os veículos públicos de comunicação também
ficariam de fora da lista, que chegou a ter 40 empresas.
A proposta de privatização da Aerolíneas, que é a maior companhia aérea do
país, foi criticada por opositores com o argumento de que é uma empresa-chave
para a conexão interna de voos, especialmente para a região da Patagônia.
Parlamentares dessa região, no sul, fizeram grande pressão para que a
privatização da companhia fosse retirada do texto.
O governo também aceitou um aumento de 3% para 5% pela mineração nos royalties
pagos a províncias do interior e se mostrou disposto a aumentar o mínimo de não
tributação sobre o pagamento do imposto salarial dos trabalhadores na região da
Patagônia, renunciando assim às receitas fiscais.
Em seis meses de governo, Milei ainda não tinha aprovado nenhum projeto no
Congresso, onde seu partido, A Liberdade Avança, não tem maioria. Em meio às
discussões, Milei descreveu o Congresso como um "ninho de ratos",
entre outros palavrões que desferiu aos legisladores e governadores. No Senado,
o presidente tem apenas 7 das 72 cadeiras e precisava do voto de 37
parlamentares para aprovar a Lei de Bases.
RESISTÊNCIA
A discussão no Congresso foi repudiada por organizações sociais, partidos de
esquerda, aposentados, professores e sindicatos. Os distúrbios começaram quando
os manifestantes tentaram passar pelo sistema de barricadas montado para isolar
o Congresso e foram repelidos com gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões
d'água.
Os manifestantes reagiram atirando pedras nos policiais e pelo menos dois
carros foram incendiados, incluindo um da emissora de rádio Cadena 3. A polícia
não forneceu um balanço de feridos ou detidos. Além dos deputados afetados pelo
gás lacrimogêneo, dezenas de manifestantes igualmente afetados pelos gases
receberam assistência no local, segundo parlamentares e uma ONG.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Reprodução/Instagram