A porta-voz diplomática da Rússia condenou nesta
sexta-feira, 12, o bombardeio do Iêmen pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido
contra os rebeldes Houthi, uma ação que o país afirma levar a uma
"escalada" e tem "objetivos destrutivos". País pediu
reunião no Conselho de Segurança da ONU
"Os bombardeios dos EUA no Iêmen são um novo exemplo da distorção dos
anglo-saxões das resoluções do Conselho de Segurança da ONU e do total
desrespeito ao direito internacional, em nome de uma escalada na região para
atingir seus objetivos destrutivos", disse Maria Zakharova, representante
oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa no Telegram.
Pelo menos cinco pessoas morreram e seis ficaram feridas nos bombardeios dos
EUA e do Reino Unido, informou o porta-voz militar do movimento. "Esses
ataques mataram cinco mártires e feriram outros seis membros de nossas forças
armadas", disse Yahya Saree na rede social X, acrescentando que houve 73
bombardeios em vários setores, incluindo a capital Sana'a e Hodeida.
O Ministério das Relações Exteriores do Irã também condenou os ataques e disse
que se tratava de uma "ação arbitrária" e uma "violação" do
direito internacional.
Os rebeldes Houthi, que controlam parte do Iêmen e são apoiados por Teerã,
lançaram vários ataques a navios no Mar Vermelho desde novembro para demonstrar
solidariedade aos palestinos em Gaza.
Os Houthi disseram que continuarão a atacar navios no Mar Vermelho que estejam
ligados a Israel. "Não há justificativa para essa agressão contra o Iêmen,
pois não havia perigo para a navegação internacional no Mar Vermelho e no Mar
da Arábia", disse Mohamed Abdelsalam, porta-voz dos houthis, um movimento
apoiado pelo Irã, no X (antigo Twitter).
Ele também garantiu que os insurgentes continuarão a realizar ataques, em apoio
aos palestinos na Faixa de Gaza, contra contrabandistas ligados a Israel ou
contra qualquer embarcação que se dirija a um porto israelense.
"O Iêmen continua com sua postura religiosa e humana e apoiará Gaza com
tudo o que puder. Essa agressão dá mais resiliência e força", disse
Abdelsalam, enquanto Mohamed Ali al-Huti, membro do gabinete político Houthi,
chamou o bombardeio americano e britânico de suas posições no Iêmen de
"bárbaro e terrorista" na mesma plataforma, uma ação que ele
justificou como sendo realizada para reduzir a tensão no Mar Vermelho.
"É uma agressão deliberada e injustificada (...) Com esses ataques, eles
estão afirmando que são eles que estão gerenciando a agressão contra Gaza, bem
como contra o Iêmen", disse o líder insurgente.
Ele disse que a resposta dos EUA e do Reino Unido vem "em um momento em
que o mundo está tentando parar o genocídio em Gaza", referindo-se ao
processo movido pela África do Sul contra Israel no Tribunal Internacional de
Justiça (ICJ) em Haia. Como outros líderes rebeldes já fizeram, Al-Huti alertou
que o bombardeio do Iêmen "não passará despercebido" e será
respondido.
Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Bahrein, Canadá, Holanda, Dinamarca,
Alemanha, Nova Zelândia e Coreia do Sul emitiram uma declaração conjunta na
qual enfatizaram que a ação era em defesa do comércio internacional e daqueles
que transitam pelo Mar Vermelho, por onde passam quase 15% do comércio marítimo
global.
"As ações de hoje demonstram um compromisso compartilhado com a liberdade
de navegação, o comércio internacional e a defesa da vida dos marítimos
contra-ataques ilegais e injustificáveis", disseram os países na
declaração conjunta.
Após o bombardeio do Iêmen, os houthis declararam "guerra aberta"
contra os Estados Unidos e o Reino Unido e alegaram ter lançado uma barragem de
mísseis contra seus navios de guerra no Mar Vermelho.
Ainda na noite de quinta-feira, o presidente dos EUA, Joe Biden, chamou os
ataques de uma "mensagem clara de que os Estados Unidos e nossos parceiros
não tolerarão ataques ao nosso pessoal nem permitirão que agentes hostis
coloquem em risco a liberdade de navegação em uma das rotas comerciais mais
importantes do mundo".
Os ataques liderados pelos EUA sinalizaram uma mudança de rumo para o governo
Biden, que há semanas não queria tomar medidas que pudessem envolver os Estados
Unidos, um firme defensor de Israel, em uma guerra mais ampla na região. (Com
agências internacionais).
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Reprodução CNN