Bruxelas, 04 - A discussão entre os presidentes dos EUA,
Donald Trump, e da Ucrânia, Volodimir Zelenski, na última sexta-feira (28) na
Casa Branca levou as relações entre os dois países a um conflito. Ele também
causou sério dano a uma aliança no coração da ordem estabelecida depois da
Segunda Guerra Mundial: a Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Trump adotou uma posição que muitos aliados europeus viam como se ele estivesse
do lado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao ignorar as preocupações de
segurança de um país amigo que precisa de ajuda do Ocidente. Ele disse que o
presidente ucraniano estava perdendo a guerra e "não tinha cartas".
A Otan é baseada na ideia de que os EUA podem usar seu poderio militar,
incluindo o arsenal de armas nucleares, para defender qualquer aliado que for
atacado. Esta premissa fundamental agora está sendo questionada.
"Eu estou preocupado que estamos nos últimos dias da Otan", disse o
almirante aposentado James Stavridis, ex-comandante aliado supremo da Otan. Ele
destacou que a aliança "pode não entrar prestes a entrar em colapso, mas
eu posso certamente ouvir o ranger mais alto do que em outros tempos em minha
longa carreira militar."
No último domingo, 2, Trump publicou uma mensagem na sua plataforma Truth
Social: "Devemos dedicar menos tempo nos preocupando com Putin e mais
tempo nos preocupando sobre as gangues de imigrantes que cometem estupros,
traficantes, assassinos e pessoas que vieram de instituições (de saúde) mental
entrando em nosso país - Para que não acabemos como a Europa." A Casa
Branca não fez comentários sobre a política do governo dos EUA sobre a Otan.
A força do apoio de Trump à Otan, que foi criticada no passado, continua
incerta. Na Casa Branca na última sexta-feira, ele disse "estamos
comprometidos com a Otan" e elogiou um país membro, a Polônia, que faz
muitos gastos com defesa.
No sábado, dia 1º, Elon Musk, um assessor de Trump que lidera o departamento de
eficiência do governo, endossou uma mensagem na plataforma X que defendia a
retirada dos EUA da Otan e das Nações Unidas.
Líderes europeus, que confiam na Otan para a segurança de seus países, têm
evitado falar publicamente sobre as ameaças à aliança, mas alguns começam a
comentar planos alternativos. "Queremos preservar a parceria
transatlântica e a nossa força conjunta", comentou no sábado a ministra
das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock. "Mas ontem vimos
uma vez mais que os europeus não devem ser ingênuos", disse, referindo-se
aos eventos ocorridos na Casa Branca na sexta-feira: "Temos que assumir a
responsabilidade pelos nossos próprios interesses, nossos próprios valores e
nossa própria segurança, pelo bem do nosso povo na Europa."
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Reprodução