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Ilha do Combu

Poço de dejetos nos finais de semana e poluição colocam vidas em risco

Levantamento da UFPA aponta índices alarmantes de coliformes fecais despejados sobretudo nos fins de semana.

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  • 30/09/2025, 08:00
Poço de dejetos nos finais de semana e poluição colocam  vidas em risco
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ualquer pessoa que chega à Praça Princesa Isabel, no bairro da Condor, em Belém, em busca de atravessar para a Ilha do Combu, inevitavelmente ouve do barqueiro a mesma pergunta: “para qual bar?”. A travessia, que começa pelo rio Guamá, segue por furos estreitos até pontos badalados da ilha, onde bares e restaurantes recebem centenas de visitantes. O movimento intenso, principalmente nos fins de semana, poderia ser símbolo de renda e prosperidade para os moradores, mas se tornou alerta vermelho: o turismo desorganizado já compromete o equilíbrio socioambiental da região.

 

Com tanto lixo e embarcações, associação de moradores relata impactos que incluem desaparecimento de peixes e camarões na região/Fotos: Divulgação.

Contaminação e riscos

Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) finalizam um estudo sobre a qualidade da água na ilha. O levantamento revela índices alarmantes de coliformes fecais despejados, sobretudo nos fins de semana. Para banho e lazer em águas de rios e praias, o limite aceitável é de até 2.000 colônias de E. coli por 100 ml, mas as amostras coletadas no Combu estão muito acima disso. A bactéria é indicadora de contaminação por fezes humanas ou de animais e representa risco direto à saúde dos visitantes e moradores.

Iva Nascimento, presidenta da Associação dos Moradores do Igarapé Piriquitaquara, relata outro impacto: “Com o aumento do fluxo de embarcações, tanto o camarão quanto o peixe sumiram. O morador da ilha, que sempre viveu do extrativismo, vê suas opções de subsistência cada vez mais reduzidas”. O turismo, que deveria fortalecer a economia local, ameaça o modo de vida tradicional.

Expansão sem controle

A expansão do turismo no Combu impressiona. Dados do Sebrae mostram que, em 2000, havia apenas três empreendimentos voltados ao lazer na ilha. Em 2023, já eram 60. Porém, muitos dos números de contato desses negócios têm DDD 11, de São Paulo, revelando que os maiores investimentos vêm de fora e pouco retornam para a comunidade local. A beleza natural impulsiona o crescimento, mas a ausência de planejamento agrava os impactos sociais e ambientais.

Lixo e esgoto nos rios

A pressão sobre o Combu reflete um problema mais amplo. Segundo a Secretaria Municipal de Zeladoria e Conservação Urbana, entre janeiro e abril de 2025 foram retiradas 150 mil toneladas de lixo dos canais e rios de Belém. Boa parte desse material segue o curso das águas até o Guamá, intensificando a poluição na região da ilha.

O Instituto Trata Brasil reforça o quadro: diariamente, 2,3 trilhões de litros de esgoto sem tratamento são despejados em rios e córregos da Amazônia Legal, volume equivalente a 761 piscinas olímpicas por dia. O Pará, junto a outros oito estados da região, concentra 26,6 milhões de habitantes, dos quais 35% não têm acesso a água encanada e 82,4% não possuem rede de esgoto.

O custo da omissão

O déficit de saneamento tem efeitos econômicos diretos. Estudo do Trata Brasil calcula que, entre 2024 e 2040, a universalização poderia gerar benefícios superiores a R$ 330 bilhões. Esses ganhos incluem redução de gastos com saúde (R$ 2,7 bilhões), valorização imobiliária (R$ 25,1 bilhões), expansão do turismo (R$ 22,1 bilhões) e geração de renda direta e indireta (R$ 39,8 bilhões).

Para Luana Pretto, presidente executiva do instituto, o atraso no investimento reflete falta de vontade política. “Infelizmente, ainda há governantes que acreditam que obra enterrada não dá voto. Isso explica por que, historicamente, o saneamento foi negligenciado”, avalia. No Norte, o gasto médio anual por habitante com saneamento é de apenas R$ 66,52, quando o ideal seria R$ 223.

Impactos sociais

A ausência de saneamento básico compromete não só a saúde, mas também as perspectivas futuras da população. “Uma criança que cresceu sem acesso a saneamento tem, ao longo da vida profissional, uma renda 46% menor do que aquela que teve esse direito garantido”, alerta Luana. No caso do Combu, a consequência é dupla: os moradores perdem a base de sua subsistência e os visitantes se expõem a riscos sanitários invisíveis em meio à paisagem paradisíaca.

Desafio urgente

A ilha que se tornou símbolo do lazer urbano em Belém agora também simboliza o preço da ausência de planejamento. A universalização do saneamento na Amazônia não é apenas uma questão de saúde pública, mas de justiça social, preservação ambiental e desenvolvimento sustentável. Enquanto a lógica do “para qual bar?” continuar sendo a principal marca do Combu, a comunidade local seguirá marginalizada e os rios da Amazônia, cada vez mais doentes.

Papo Reto

Depois da enorme pressão do União Brasil, que abandonou Lula, Celso Sabino (foto) deixará o ministério do Turismo nos próximos dias.

•O que se diz é que Sabino, depois dos bons resultados para o governo e com o consentimento do presidente, teria deixado seu time "muito bem instalado" na pasta para garantir seus novos voos na política. 

A CPMI do INSS vem coletando depoimentos e dados que apontam para o envolvimento de bancos, entidades de classe e intermediários nas operações que, covardemente, subtraíram valores sem autorização dos beneficiários do instituto.

•O ministério da Justiça, no entanto, pediu mais uma semana para enviar documentos importantes à Comissão, instalada há um mês.

O ministro Luiz Fux voltou a contrariar Alexandre de Moraes ao pedir absolvição de dois réus da tal "trama golpista".

•Só que a Primeira Turma do STF já havia formado maioria para condenar os dois réus a 14 anos de prisão.

Aliás, a idosa com câncer também condenada a 14 anos de prisão no Complexo Médico Penal de Pinhais foi liberada para prisão domiciliar no Paraná.

•Está marcada para o dia 3 de outubro a audiência pública que vai debater a implantação do transporte público urbano em Altamira. 

O encontro ocorrerá na sede do Ministério Público do Estado na cidade e será presidido pelo promotor de Justiça David Terceiro Nunes Pinheiro.

•Qualquer pessoa pode participar com sugestões de ideias para o projeto por meio de um formulário online criado exclusivamente para o debate. 

As informações coletadas irão embasar a implementação do serviço, que é parte do Plano Municipal de Mobilidade Urbana.

Mais matérias OLAVO DUTRA

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.