São Paulo, 15 - O procurador-geral da
República, Paulo Gonet, se manifestou contra a remoção dos ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin e Flávio Dino do julgamento sobre o
destino do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ambos foram indicados ao STF pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em pareceres enviados nesta sexta-feira, 14, Gonet afirmou que as acusações da
defesa do ex-presidente sobre uma suposta "parcialidade" dos
ministros não dialogam com o Código de Processo Civil (CPC) e com o Código de
Processo Penal (CPP).
O pedido de Bolsonaro para que Dino e Zanin fossem considerados suspeitos já
havia sido negado pelo presidente do Tribunal, ministro Luís Roberto Barroso.
No último dia 10, a defesa do ex-presidente entrou com recurso, mas, segundo
Gonet, não houve "razões" capazes de mudar o entendimento do
ministro.
"A situação fática e jurídica que autorizou a negativa de seguimento à
arguição de impedimento mantém-se inalterada, não havendo nas razões recursais
fundamento novo capaz de modificar o entendimento já estabelecido pelo eminente
Ministro presidente na decisão de 28.2.2025", disse Gonet nas
manifestações.
Com os pareceres de Gonet, o STF agora terá que decidir se irá acatar, ou não,
o recurso feito por Bolsonaro. O ex-presidente deve ser julgado pela Primeira
Turma da Corte por cinco crimes relacionados pela tentativa de golpe de Estado
após as eleições de 2022. A estratégia da defesa é tirar Dino e Zanin, que
pertencem ao colegiado, para assim a pauta ir para o plenário do Tribunal por
falta de quórum.
A defesa do ex-presidente pediu a suspeição de Dino e Zanin com base em
notícias-crime contra Bolsonaro movidas pelos ministros antes de assumirem as
cadeiras no STF.
Antes de assumir a vaga no tribunal, quando era advogado, Zanin subscreveu em
nome do PT uma notícia-crime contra Bolsonaro por ataques às instituições. Um
dos crimes atribuídos ao ex-presidente na representação era justamente o de
tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tipificação
que consta na denúncia do inquérito do golpe.
Em relação a Flávio Dino, os advogados mencionam uma queixa-crime por acusação
de calúnia, injúria e difamação, movida pelo ministro quando ele era governador
do Maranhão.
Em maio de 2024, Zanin se declarou impedido para julgar o recurso do
ex-presidente contra a condenação que o deixou inelegível. A defesa de
Bolsonaro alegou que ele também não deve participar do julgamento do plano de golpe
porque os casos teriam relação.
Na decisão do último dia 28, Barroso afirmou que as alegações do ex-presidente
"não são passíveis de enquadramento em qualquer das hipóteses
taxativamente" previstas na legislação para o impedimento de magistrados.
"Não se admite: (i) a criação de situação de impedimento que não tenha
sido expressamente mencionada no texto legal; ou (ii) a interpretação extensiva
de suas disposições, para que contemplem situações não previstas pelo
legislador", escreveu Barroso.
Na quinta-feira, 13, um dia antes das manifestações da Procuradoria-Geral da
República (PGR), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), liberou a denúncia do inquérito da tentativa de golpe de Estado,
ocorrida no fim de 2022, para julgamento na Primeira Turma. Zanin, que preside
o colegiado, marcou a data de análise para o dia 25 de março.
Na denúncia, Gonet concluiu que Bolsonaro não apenas tinha conhecimento do
plano golpista como liderou as articulações para dar um golpe de Estado. Se for
condenado, o ex-presidente pode pegar mais de 43 anos de prisão. Os crimes
atribuídos ao capitão reformado são:
- tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito (pena de 4 a
8 anos);
- golpe de estado (pena de 4 a 12 anos);
- organização criminosa armada (pena de 3 a 8 anos que pode ser aumentada para
17 anos com agravantes citados na denúncia);
- dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União,
e com considerável prejuízo para a vítima (pena de 6 meses a 3 anos);
- deterioração de patrimônio tombado (pena de 1 a 3 anos).
Além de Bolsonaro, outras 33 pessoas foram denúnciadas pela PGR em fevereiro,
no âmbito do inquérito do golpe. Do total, 24 integram ou já integraram as
Forças Armadas.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil