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COP30

Pesquisadora defende que Amazônia e Brasil precisam superar complexo de vira-lata

Recomendação da PhD em Londres Rosineide Bentes é inspirada em livro recém-lançado com nova abordagem sobre as empresas de borracha na região.

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  • Abnor Gondim | Especial
  • 03/10/2025, 12:00
Pesquisadora defende que Amazônia e Brasil precisam superar complexo de vira-lata
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livro "Um novo olhar sobre a empresa de borracha na Amazônia, 1840-1930", da pesquisadora Rosineide Bentes, propõe uma visão sobre o passado da região que pode ajudar a entender as questões atuais, como as discussões sobre a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30, que ocorrerá em novembro, em Belém. 

 

Autora avalia que entender o passado é crucial para que o País possa debater questões atuais com soberania, especialmente em eventos como a COP30/Fotos: Divulgação.

Segundo a pesquisadora, entender o passado é crucial para que o País possa debater questões atuais com soberania, especialmente em eventos como a COP30. Bentes destaca que a compreensão da história da Amazônia revela que a região nunca esteve isolada, mas sim profundamente inserida no sistema capitalista global.

“A Amazônia precisa superar o ‘complexo de vira-lata’”, recomenda a doutora pela London School of Economics and Political Science. Em sua obra, Rosineide Bentes desafia a ideia de que a extração de borracha na Amazônia era primitiva e escravocrata. A autora enfatiza que a Amazônia e o Brasil precisam valorizar sua própria história e conhecimentos locais.

A obra de Bentes mostra que a defesa da "floresta em pé" na época do ciclo da borracha era motivada por razões econômicas e técnicas, não por uma visão romântica. A produção de borracha dependia da preservação da floresta e de um manejo florestal sofisticado, similar à agricultura agroecológica atual. 

“Enquanto seringueiras nativas podiam ser produtivas por até 100 anos, as plantações monoculturais da época duravam cerca de 25 anos”, compara, com a ressalva de que o momento histórico era outro. Portanto, destaca que essa experiência não serve para justificar propostas como a criação de reservas extrativistas na Amazônia ou teses defendidas por Ongs e órgãos multilaterais a favor de unidades comandadas pelo governo e por cientistas.

Negócio sofisticado

A pesquisa de Rosineide Bentes começou por acaso durante seu mestrado, quando encontrou documentos que contradiziam o conhecimento estabelecido sobre a indústria da borracha. A literatura da época focava nos aspectos comerciais e políticos, mas não se aprofundava na esfera da produção e nas relações de trabalho. 

Daí em diante, a autora mergulhou em mais de 30 arquivos e bibliotecas no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos, onde descobriu um modelo de negócio capitalista sofisticado. Essa empresa capitalista, que surgiu a partir da década de 1840, baseava-se na propriedade privada de seringais e empregava trabalhadores livres, e não escravos.

Bentes avalia o capitalismo da borracha por três características principais: uma rede internacional de produção e comércio; a produção de mercadorias para gerar lucro; e relações sociais baseadas em classes, com seringalistas (proprietários) e trabalhadores assalariados (não-proprietários). 

Essa perspectiva se diferencia do trabalho escravo, pois, segundo a autora, ter escravos não era lucrativo na indústria da borracha devido à entressafra de quatro meses, período em que o seringalista teria que arcar com os custos de manutenção. 

Os seringueiros, como trabalhadores livres, eram responsáveis por suas próprias despesas, e a dívida inicial era resultado de empréstimos para cobrir os custos de locomoção. Bentes ressalta que “a dívida não é um sinal de escravidão, pois escravo não contrai dívidas”.

Futuro sem complexo

Pesquisadora da Universidade Estadual do Pará (Uepa), Rosineide Bentes conclui que a Amazônia e o Brasil precisam superar o "complexo de vira-lata. Isso significa ter autoconhecimento e autoestima, avaliando criticamente todos os discursos e propostas, sejam políticas, ideológicas ou científicas, que vêm de países industrializados.

“A relação com o exterior é inevitável, mas o Brasil deve se engajar nela com base em seu próprio conhecimento e valorização de sua história”, ressalta.

Para ela, a falta de conhecimento sobre a própria história leva ao desrespeito internacional, já que muitos estrangeiros aprendem sobre a região em suas escolas. A pesquisadora espera que sua obra inspire mais pesquisas para que os brasileiros possam se conhecer melhor e entender seus próprios interesses. 

“Conhecer a história da Amazônia é fundamental para a autoestima e o respeito mútuo entre os países”, aconselha. “O livro de Rosineide Bentes é um convite à reflexão sobre a identidade brasileira e um lembrete de que a Amazônia nunca foi um "vazio" a ser explorado, mas sim uma região complexa com uma história rica e uma população capaz.

Rosineide Bentes - Ph.D. Escola de Economia e Ciências Políticas de Londres; Mestre em Planejamento do Desenvolvimento (Naea/UFPA); professora/pesquisadora Uepa e autora de livros e artigos sobre medicina popular, meio ambiente e educação na Amazônia

“Um novo olhar sobre a empresa de borracha na Amazônia, 1840-1930” pode ser adquirido na Appris, editora de publicações acadêmicas, e na Amazon, líder do mercado online.

Papo Reto

Belém terá Pontos de Informação Turística com informações bilíngues para acolhimento aos visitantes que participarão da COP30, que acontecerá em novembro. 

•Diante da expectativa de receber mais de 40 mil visitantes na Conferência Mundial do Clima, as estruturas trarão informações sobre a cidade em pontos de grande circulação e estratégicos do evento. 

O anúncio foi feito pelo ministro do Turismo, Celso Sabino (foto), durante agenda com o presidente Lula, ontem, na capital paraense, para a inauguração do Parque Linear da Nova Doca.

•O Ministério da Agricultura publicou portaria com a relação dos 1.363 municípios brasileiros para ter acesso à linha de crédito de renegociação de dívidas rurais, via BNDES, com transferência de R$ 12 bilhões do governo federal para o programa. 

A medida visa os municípios afetados por secas e enchentes nos últimos anos. Os recursos terão juros de 6% a 10% ao ano conforme o porte do produtor, com prazo de pagamento de até nove anos. 

•No Pará, são oito os municípios beneficiados: Água Azul do Norte, Baião, Bom Jesus do Tocantins, Capitão Poço, Placas, Prainha, Rio Maria e Tucurui. 

Entrou em vigor o novo "botão de contestação" do Pix, ferramenta do Banco Central que permite contestar golpes e fraudes de forma totalmente digital.

•Após ordem da 23ª Vara Cível de Goiânia para retirar "petista não é bem-vindo", o Frigorífico Goiás pendurou novo aviso: "Ladrão não é bem-vindo. Quem apoia ladrão também não".


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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.