Roll-on, spray, creminho, em talco, de farmácia, natureba… A lista de opções no mundo dos desodorantes é imensa, e se você já testou todas elas sem sucesso, a questão pode estar não nas fórmulas e apresentações, mas na forma como você lava e cuida das suas axilas.
"Em alguns casos, onde já tem uma contaminação, pode-se usar um sabonete antimicrobiano", sugere Fernanda Nichelle, médica especialista em estética, pós-graduada em dermatologia estética avançada com atualizações nas universidades de Harvard e Michigan (EUA).
Essa contaminação que ela fala não é nada de outro mundo - são só bactérias mesmo, dessas que habitam nosso corpo aos milhares, sendo que as que moram no sovaco são responsáveis pelo mau cheiro por ali, o popular “cecê".
"Existe uma patologia chamada bromidrose, que é a contaminação bacteriana do local que, em contato com o suor, produz o mau cheiro", explica a médica Fernanda Nichelle. Ou seja: as pessoas suam, a transpiração se mistura à ação dos microrganismos, e o cheiro ruim se instala.
A estudiosa Lélia Gonzalez, por sua vez, no texto "Racismo e sexismo na cultura brasileira" (1984), já especulou se o termo "cecê" poderia ter origem racista por significar uma abreviação de "catinga de crioula".
O dicionário, no entanto, diz que a palavra significa "cheiro de corpo". Foi adotado a partir de uma propaganda de sabonetes que na teoria combateriam o "body odor", ou BO (odor corporal). Quando começou a ser vendido no Brasil, o tal sabonete precisou manter o marketing e o BO foi traduzido para "cecê". Essa história é contada em "Nada de 'C. C. Comigo!: Publicidade e Consumo de Produtos de Higiene no Brasil Moderno", de Elizabete Mayumy Kobayashi.
Em variadas medidas, todo mundo expele suor - as glândulas sudoríparas são as responsáveis por manter o corpo numa temperatura aceitável, sem colapsar no calor. O "cecê" não tem relação direta com essa quantidade de suor, diz Fernanda, mas com a contaminação bacteriana.
E por que tem gente que fica com cheiro pior que o dos outros nas axilas? "Isso pode estar relacionado à alteração hormonal e até mesmo à ingestão de alimentos como cebola, alho, pimenta, que podem aumentar o mau cheiro e também o suor", afirma a médica. Comer esse monte de temperos, portanto, é contraindicado nos casos em que os desodorantes não estão dando conta de resolver o “cecê".
Fernanda também recomenda uma higienização caprichada com os tais sabonetes antimicrobianos lá do começo e outras medidas importantes. "Sempre orientamos ao paciente que faça uma secagem excessiva dessa região. Secar bem com uma toalha, e até mesmo complementar com um papel higiênico, para evitar a umidade do local", diz.
Depilar as axilas, seja com lâmina de barbear ou com cera, pode ajudar a melhorar o mau cheiro. A médica diz que o excesso de pelos propicia a contaminação bacteriana, já que as bactérias se aderem aos cabelos e conseguem ficar mais na região.
E será que é verdade que adolescente tem mais tendência ao "cecê" do que crianças e adultos? A resposta é sim. Fernanda conta que os principais vilões dessa fase, sob esse aspecto, são os hormônios em alteração constante.
"O cheiro também está relacionado algumas vezes à higiene inadequada que nessa idade pode vir a acontecer. Alguns adolescentes têm dificuldade de tomar banho da maneira correta e isso pode facilitar a contaminação bacteriana", afirma a médica.
(Com a Folha)