O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o deputado Ricardo Salles
(PL-SP) protagonizaram embates na sessão da CPI do MST desta quinta-feira, 17.
O titular da pasta, que compareceu à audiência na condição de convidado,
resgatou, por mais de uma vez, a declaração polêmica dita por Salles sobre
"passar a boiada" durante reunião ministerial no governo Bolsonaro em
meio à pandemia. "Não tenho vergonha disso", disse o deputado, que é
o relator da comissão.
Os ânimos se exaltaram, no entanto, após Fávaro dizer que tem
"amigos" no MST, e Salles sugerir que o ministro, durante a sessão,
adotava uma postura condescendente sobre o movimento, principal alvo da
investigação. "O ministro da Agricultura do Brasil entende que é legítimo
invadir terra devoluta", disse Salles.
Fávaro, então, tentou se explicar: "a reivindicação (de terra) é legítima,
o direito à propriedade é legítimo. Quem invadir, responde por isso (...) Não
estou dizendo que ele (o manifestante) não tem a oportunidade de invadir",
afirmou o ministro.
"A maneira que o senhor responde deixa espaço, sim, que o senhor não
condena tanto invasão de terra devoluta", completou Salles, que cobrou um
posicionamento claro de Fávaro. "Qualquer manifestação que invada espaços
públicos e privados é crime?", questionou.
"É crime", respondeu Fávaro. "Estou dizendo que qualquer
manifestação é legítima. Você pode ir na frente de um órgão público, pode ir na
terra devoluta e reivindicar", disse.
Pouco tempo depois, após insistência de Salles, Fávaro condenou a invasão em
terras devolutas. "Está consignado que o ministro do PT não concorda que
qualquer movimento possa invadir terra devoluta", falou o relator, em mais
uma tentativa de constranger o ministro com o governo.
Durante a sessão, Fávaro adotou um discurso conciliatório e afirmou ter amigos
no MST. "Conheço muita gente boa que sonha em ter um pedaço de terra. É
legítima a luta pela terra. Tenho muitos amigos que são membros do MST e tenho
respeito por eles", disse. Ele disse que a ida à CPI do líder do grupo,
João Pedro Stédile, mostra que a gestão de Lula é "democrática" e
"aberta ao diálogo".
A audiência começou com o ministro da Agricultura queixando-se da pressão da
oposição para o comparecimento à CPI. "Tornou-se uma convocação. O fato de
você ser convidado pressupõe que você pode vir em outra data", disse.
Fávaro disse que tinha uma agenda ao longo do dia e precisou cancelar uma
viagem para estar na comissão . Como mostrou o Estadão, porém, em comunicado
enviado por e-mail à CPI, Fávaro apenas alegou "extensa agenda
ministerial" e não propôs um outro dia para o encontro aos integrantes.
O entrevero entre os dois continuou. Salles perguntou a Fávaro sobre a posição
dele sobre o plantio de transgênicos no Mato Grosso. "Se atente ao tema da
CPI. Sou um parlamentar, respeito o Congresso Nacional. Eu não vou responder um
assunto que não seja do MST", disse. "Estou assistindo a um ministro
que não quer se posicionar a um tema sobre o seu Estado", devolveu Salles.
Salles também quis colocá-lo em conflito com a Associação de Produtores de Soja
(Aprosoja). "Ela se politizou e fico muito triste com os caminhos que o
Aprosoja tomou", respondeu Fávaro, que presidiu a associação no Mato
Grosso. A entidade foi alvo de ataques de Stédile em depoimento nesta
terça-feira, 15. Ele disse que a Aprosoja representa um "agronegócio
burro", que não votou em Lula e que só pensa em ganhar dinheiro.
Fávaro voltou a usar a expressão "passar a boiada". "O senhor
usou a expressão duas vezes. Não tenho a vergonha de ter dito isso. Acho que
falar em passar a boiada é muito positivo. O que o senhor me espanta é usar
campanha para o Senado usando imagem do Bolsonaro e depois usando o PT",
rebateu Salles.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Lula Marques/Agência Brasil