São Paulo, 11 - A vice-presidente dos Estados Unidos e
candidata presidencial democrata, Kamala Harris, partiu para o ataque no
primeiro debate presidencial contra o candidato republicano e ex-presidente,
Donald Trump, na noite desta terça-feira, 10, na Filadélfia. Aliados de Trump
esperavam que ele fosse mais disciplinado em sua mensagem recheada de críticas
a economia americana sob Joe Biden e o fluxo de imigrantes ilegais, mas Kamala
conseguiu atingir o republicano ao mencionar suas condenações criminais, a
maneira como Trump lidou com a pandemia da covid-19 e sua fixação com o tamanho
dos comícios.
Acuado, Trump usou mentiras para atacar a candidata democrata e ficou ainda
mais irritado quando foi corrigido por David Muir e Linsey Davis, moderadores
do debate da emissora americana ABC News. O republicano alegou que Kamala
é uma "progressista radical" que deseja tirar as armas dos
americanos, e banir o fracking, um processo usado para extrair petróleo e gás
natural do leito rochoso. Trump também tentou vincular Kamala a Biden em dois
dos temas que mais machucam os democratas nas pesquisas: imigração e economia.
Ao ser perguntada sobre diversas questões envolvendo o mandato de Biden, Kamala
desconversou e destacou que tem um plano para reduzir os impostos da classe
média. A vice-presidente também acusou Trump de ter prejudicado uma legislação
no Congresso americano que teria reforçado a patrulha nas fronteiras americanas
para explorar o tema durante o período eleitoral.
Economia
O debate começou com perguntas sobre a economia americana. Ao ser questionada
sobre seu plano econômico, Kamala ressaltou que queria criar uma "economia
de oportunidades" e reduzir impostos para a classe média. A
vice-presidente acusou Trump de planejar um grande corte de impostos para os
ricos americanos. O tema é o "calcanhar de Aquiles" da candidata
democrata e muitos eleitores ainda não conseguiram entender a mensagem
econômica da campanha
Kamala disse também que vai reduzir os impostos de micro-negócios e que deseja
que a classe média americana cresça nos próximos anos.
O republicano iniciou a sua participação no debate com críticas à alta inflação
americana. O ex-presidente louvou as realizações de seu governo e mencionou a
imigração ilegal como um dos problemas que estaria atrapalhando a economia
americana. Trump acusou imigrantes ilegais de tirarem empregos de americanos,
citando nominalmente latinos e afro-americanos como prejudicados pelo grande
fluxo de imigrantes ilegais.
Trump defendeu o seu plano de impor tarifas a produtos de outros países ao
ressaltar que apenas a China seria prejudicada e não os americanos.
Especialistas dizem que as tarifas podem aumentar a inflação americana.
Ao ser perguntada sobre o fato de a administração de Biden ter mantido algumas
tarifas impostas pelo governo Trump, Kamala se esquivou e acusou o republicano
de não ser "firme" com o presidente da China, Xi Jinping.
O republicano terminou o bloco criticando novamente as políticas do governo
Biden em relação ao fluxo de imigrantes ilegais. Ele disse que Kamala não tem
uma ideologia própria e alegou que ela é uma marxista como seu pai, o professor
universitário Donald Harris.
Aborto
No segundo bloco de perguntas, Trump foi perguntado sobre o tema que mais
incomoda a sua campanha e favorece Kamala: aborto. Ele acusou o Partido
Democrata de ser "radical" e mencionou o companheiro de chapa de
Kamala, Tim Walz, ao apontar que ele seria a favor da morte de bebês após o
nascimento.
O republicano se disse a favor do procedimento em exceções como má-formação,
estupro ou incesto e defende que o tema seja decidido pelos Estados americanos.
Kamala afirmou que o governo americano não tem o direito de dizer o que uma
mulher pode ou não fazer com o seu corpo. A vice-presidente destacou que deseja
restaurar o entendimento jurídico Roe vs Wade via Congresso americano, que foi
revogado pela Suprema Corte.
O entendimento liberava o procedimento nos Estados Unidos. A democrata disse
que Trump proibiria o aborto em todos os Estados se fosse eleito.
Imigração
Durante perguntas sobre o imigração, Kamala acusou Trump de ter forçado
republicanos no Congresso a não aprovarem uma legislação que reforçaria a
patrulha da fronteira para explorar o tema nas eleições.
Neste momento, Kamala conseguiu irritar Trump ao convidar os americanos a irem
para um comício de Trump. A democrata mencionou diversas desinformações
perpetradas pelo republicano durante seus comícios e constantes declarações
sobre Hannibal Lecter, um personagem ficcional do filme "Silêncio dos
Inocentes", de 1991. A democrata também afirmou que muitos apoiadores de
Trump ficam entediados e sonolentos durante os comícios e vão embora.
Em uma tentativa de atacar o fluxo de imigrantes durante o governo Biden, Trump
respondeu aos ataques de Kamala de forma confusa ao mencionar uma teoria da
conspiração em relação a imigrantes haitianos que supostamente comem gatos e
cachorros em Springfield, uma cidade do Estado americano de Ohio. O republicano
foi corrigido pelos moderadores do debate após as declarações.
Ainda no assunto, Kamala criticou Trump e afirmou que muitos políticos do
Partido Republicano que trabalharam no governo Trump a apoiaram. Ela também
menciona que obteve o apoio de ex-funcionários que trabalharam com o
ex-presidente George W. Bush e os senadores Mitt Romney e John McCain.
Trump se defendeu ao afirmar que os funcionários de seu governo que agora
apoiam Kamala eram "ruins" e ficaram bravos porque foram demitidos. O
ex-presidente voltou a carga no tema de imigração ilegal ao afirmar que os EUA
podem se tornar uma "Venezuela com esteroides" por conta do alto
fluxo de imigrantes ilegais nos EUA.
Neste momento, Kamala menciona as condenações judiciais de Trump ao apontar que
o republicano não tem moral para defender controles mais rígidos na fronteira.
O republicano diz que as acusações foram orquestradas politicamente para
prejudicá-lo nas eleições.
"Eu provavelmente levei um tiro na cabeça por conta das coisas que eles
dizem de mim", apontou Trump em relação a tentativa de assassinato sofrida
por ele em um comício em Butler, Pensilvânia, em julho.
6 de janeiro e eleições de 2020
Ao ser perguntado sobre a insurreição ao Capitólio no dia 6 de janeiro de
2021, Donald Trump se defendeu e afirmou que apoiou protestos pacíficos em
Washington. Após perder o pleito americano de 2020 para Joe Biden, Trump não
aceitou o resultado e estimulou questionamentos e protestos.
Durante o debate, o republicano seguiu não reconhecendo a sua derrota em 2020 e
culpou a ex-presidente da Câmara dos Deputados Nancy Pelosi pelo ataque ao
Capitólio. O ex-presidente alegou que imigrantes ilegais estavam votando nas
eleições americanas e favorecendo o Partido Democrata.
Kamala afirmou que estava em Washington durante o ocorrido e apontou que Trump
não condenou a marcha neonazista na cidade de Charlotsville, em 2017, e nem o
grupo de extrema direita Proud Boys.
Após Trump questionar mais uma vez os resultados das eleições americanas de
2020, a vice-presidente disse que o republicano foi despedido pelos eleitores
no último pleito e que líderes mundiais fazem chacota do ex-presidente. O
republicano respondeu que os democratas não respeitam a democracia por conta da
saída de Joe Biden da chapa e que o atual presidente odeia Kamala.
Política externa
Durante o bloco de política externa, os dois candidatos foram questionados
sobre os principais temas dos últimos quatro anos: a guerra entre Israel e o
grupo terrorista Hamas, a guerra na Ucrânia e a saída americana do Afeganistão.
Kamala afirmou que deseja um cessar-fogo na Faixa de Gaza e que está
trabalhando pela volta de todos os reféns israelenses. Em resposta, o
republicano apontou que a democrata odeia Israel e que os ataques terroristas
de 7 de outubro do ano passado não teriam acontecido se ele fosse o presidente
americano.
Em relação a guerra na Ucrânia, o ex-presidente destacou que a guerra entre
Kiev e Moscou não estaria acontecendo se ele fosse o mandatário americano. Como
em outros momentos, o republicano apontou que acabaria com a guerra ainda como
presidente eleito, antes de possivelmente assumir no dia 20 de janeiro do ano
que vem.
A vice-presidente negou que odeie Israel e atacou Trump ao afirmar que ele
gostaria de ser um ditador e troca "cartas de amor" com o líder
supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-un.
Ao ser perguntado se queria que a Ucrânia ganhasse a guerra contra a Rússia, o
republicano afirmou que queria que a guerra acabasse, sem tomar um lado. Ele
criticou a diplomacia do governo Biden ao apontar que não existe nenhum diálogo
entre Washington e Moscou e louvou suas supostas boas relações com o presidente
da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski.
Kamala destacou que Trump "desistiria da Ucrania" caso eleito.
"Se Donald Trump fosse presidente, Putin estaria em Kiev agora". A
vice-presidente ressaltou a importância da Otan em todo o processo de defesa da
Ucrânia.
Quando perguntada sobre o Afeganistão, a vice-presidente apontou que apoiou a
decisão de Joe Biden de retirar tropas americanas do país. A democrata acusou
Trump de convidar lideranças do Taleban a negociarem nos Estados Unidos.
O republicano atacou a democrata e classificou a saída do Exército americano do
Afeganistão como um dos "momentos mais vergonhosos da história dos Estados
Unidos".
Questões raciais na política
Na parte final do debate, o republicano foi perguntado sobre questionamentos
anteriores em relação à identidade racial de Kamala Harris, uma mulher negra de
origem indiana e jamaicana.
Trump afirmou não se importar com a identidade racial de Kamala, mas afirmou
que ela passou a se identificar como afro-americana nestas eleições. Kamala,
que sempre se identificou como uma mulher negra, afirmou que Trump tenta
dividir os americanos por raça e aumentar a divisão nos Estados Unidos.
Considerações finais
Em suas considerações finais, Kamala afirmou que tem uma visão de futuro para
os EUA e que quer criar mais oportunidades e reduzir o custo de vida. A
vice-presidente ressaltou que faz parte de uma nova geração de líderes
americanos que está mais focada no futuro, ao contrário de Trump que estaria
focado no "passado".
"Por que ela não fez antes?", questionou Trump no início de suas
considerações ao ressaltar que Kamala faz parte da atual administração
americana, mas ainda sim discursa como se fosse uma candidata da oposição. O
ex-presidente adotou um tom pessimista e disse que os EUA são uma "nação
em declínio" e que a imigração ilegal está destruindo o país.
Debate
Kamala Harris põe Trump na defensiva e esconde herança de Biden em debate
Candidata afirmou que deseja um cessar-fogo na Faixa de Gaza
11/09/2024 10:11