São Paulo, 09 - A Justiça de Portugal anunciou nesta
sexta-feira, 8, que a lei anti-imigração aprovada pelo Parlamento em julho
contém trechos inconstitucionais. Por isso, o presidente de Portugal, Marcelo
Rebelo de Sousa, que havia recebido a lei para sancioná-la ou vetá-la, devolveu
o documento ao Parlamento, para que esses trechos sejam reformados. Ou seja,
nenhuma das alterações promovidas pelo Parlamento entrará em vigor agora.
O projeto de lei, com medidas que endurecem significativamente a política migratória
do país, foi aprovado pela Assembleia da República em 16 de julho. Os
brasileiros, maior comunidade estrangeira em Portugal, figuram entre os mais
afetados pelas medidas.
Marcelo Rebelo de Sousa fez uma consulta ao Tribunal Constitucional, o órgão
máximo da Justiça portuguesa. Encaminhou a chamada 'lei dos estrangeiros' e
perguntou se estava adequada às regras da Constituição.
Os integrantes do tribunal analisaram a lei e, em decisão não unânime,
consideraram inconstitucionais cinco trechos da lei. Por isso, o presidente
devolveu a lei à Assembleia.
Um dos pontos considerados ilegais pelo tribunal foi a possibilidade de separar
casais de estrangeiros se um cônjuge estiver legal e o outro ilegal no país.
Para o órgão da Justiça, essa norma "é incompatível com a proteção
constitucionalmente devida à família, em particular à convivência dos cônjuges,
ou equiparados, entre si".
Outra mudança que estava prevista na nova lei e que poderia afetar os
brasileiros era em relação ao pedidos de vistos de concessão de trabalho, que
ficariam restritos a "trabalhadores altamente qualificados". A
situação, no entanto, permanece a mesma: o estrangeiro deve cumprir as
exigências previstas na legislação, como possuir o equivalente a três salários
mínimos (2.610 euros) portugueses em uma conta corrente, além de local para
ficar e passagem de volta para o país de origem. Esse tipo de visto permite que
os trabalhadores estrangeiros possam ficar 120 dias em Portugal em busca de
trabalho formal - o prazo ainda é prorrogável por mais 60 dias.
Os brasileiros representam o maior grupo de estrangeiros em Portugal e o número
tem crescido nos últimos anos. O último dado oficial que o Ministério de
Relações Exteriores dispõe é de 2023, indicando 513 mil brasileiros em terras
portuguesas. Em 2018, eram 111 mil.
A lei anti-imigração aprovada pelo Parlamento em julho se soma a um movimento
de fechamento do país a estrangeiros já adotado pelo governo português, que
havia anunciado, em junho, que 34 mil imigrantes seriam notificados a sair do
país, entre eles 5 mil brasileiros que tiveram o pedido de residência por
manifestação de interesse negado.
Fonte: Estadão conteúdo
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