ara o cidadão que consulta a página de notícias do governo do Pará, fica a sensação de normalidade, cenário bem diferente da vida real, na qual a Secretaria de Educação está ocupada há quase uma semana por lideranças indígenas que se recusam a aceitar a Lei 10.820, que muda o Sistema Modular de Ensino e o Sistema Modular de Ensino Indígena, tornando virtuais as aulas presenciais.
A equação posta para resolver é
simples, mas nem tanto: além da revogação da lei, os indígenas protestam contra
o fim das diretrizes e garantias para o sistema de ensino e exigem a exoneração
do secretário de Educação, Rossieli Soares.
O titular da Seduc encerrou 2024
recebendo o título de ‘Cidadão do Pará’ na Assembleia Legislativa, e começou
2025 recebendo da Prefeitura de Belém a Comenda do Mérito Francisco Caldeira
Castelo Branco, durante o aniversário da cidade, a mais alta honraria concedida
pelo município.
Agora, em menos de uma semana, o
secretário se vê em uma crise que afeta a própria imagem e o governo do Pará. O
governador Helder Barbalho não se encontra em Belém, cabendo à vice-governadora
Hana Ghassan exercer a governança, no caso específico da Seduc com a
participação direta do Procurador-Geral do Estado, Ricardo Sefer.
Currículo na educação
O secretário Rossieli Soares
substituiu Eliete Braga na pasta de Educação. Advogado de formação, o
secretário já passou por altos cargos na área, todos por indicação política.
Entre outros, foi titular da pasta da Educação no Amazonas e em São Paulo, e
também chegou a ser ministro da Educação, em 2018.
Origem do imbróglio
A Secretaria de Educação do Pará
lançou a origem do tumulto no final do ano passado, ao aprovar a Lei 10.820. As
mudanças no sistema de ensino em discussão incluem o projeto de implementação
de aulas online via TVs para as comunidades remotas, mas sem
consulta aos povos indígenas. Na Seduc ocupada, os manifestantes informaram que
só sairão das instalações após uma audiência com o governador.
O fato é que a ocupação da Seduc é
uma saia-justa que pode custar caro ao governador Helder Barbalho. Em ano de
COP30, Belém começa o ano com o governo na vitrine da ocupação justamente dos
indígenas, povos que deveriam ter políticas de proteção junto com o que resta
da floresta que habitam.
MPF cobra explicações da
União sobre modelo de
aulas telepresenciais
prevista para o Estado
Se pairar dúvida de que a ocupação da
sede da Secretaria de Educação do Pará por lideranças
indígenas, desde terça-feira, 13, está perto de uma ação mais
direta do governo federal, basta observar o passo dado nessa direção pelo
Ministério Público Federal na última sexta-feira: o MPF requisitou à
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos,
Diversidade e Inclusão um posicionamento atualizado da União
sobre o modelo de aulas telepresenciais previsto pelo governo do Pará
para os povos da floresta, do campo e das águas, o Centro de Mídias
da Educação, modalidade de ensino à distância do governo do Estado.
Ainda na sexta-feira, com a presença
do secretário-substituto da Secretaria Nacional de Articulação e Promoção de
Direitos Indígenas, Uilton Tuxá, designado pela ministra dos
Povos Indígenas, Sônia Guajajara, para acompanhar os desdobramentos da situação
em Belém, o secretário Rossieli Soares e o procurador-geral do Pará,
Ricardo Seffer participaram de uma tensa reunião com os indígenas. Era o quarto
dia da ocupação.
Naquele dia, um fato que chamou
atenção: no momento da reunião, uma chuva diluviana caiu sobre Belém. Com tanta
água, uma goteira se abriu no teto e o auditório ficou, em parte, alagado.
Enquanto as crianças indígenas se divertiam brincando com a água que nem os
faxineiros conseguiam drenar, os manifestantes fizeram um paralelo entre a
situação deles e o auditório alagado.
“Se os senhores estão vendo que, por
acaso, este auditório está cheio de água, imaginem como ficam as salas de
aula improvisadas no interior do Pará. Essas salas, sem condições, quase
sempre ficam assim, alagadas por conta das chuvas. E ainda assim, nós queremos
que as aulas presenciais continuem”, disse uma das indígenas.
Consulta aos povos
A requisição foi enviada pelo MPF à
Secadi na sexta-feira, com pedido de que a resposta inclua nota técnica ou
parecer técnico sobre o assunto. Em uma ação ajuizada em 2018, o MPF e o
Ministério Público do Pará defendem que cada um dos povos e comunidades
tradicionais deve ser consultado antes de qualquer tomada de decisão do Estado
sobre esse tema.
Nesse processo judicial, em 2020, a
União, por meio da AGU, manifestou-se favorável à conversão das aulas
presenciais em aulas online. Agora, o MPF quer saber se a União
mantém ou não esse posicionamento.
No ofício encaminhado ao MEC, a
procuradora da República, Manoela Lopes Lamenha Lins Cavalcante também
requisitou resposta sobre quais providências a Secadi pretende adotar
diante das reivindicações do grupo manifestante, que é apoiado por
profissionais da educação.
O MPF tem defendido a necessidade de
consulta prévia, livre e informada em diversas manifestações, ofícios e em
recomendações enviadas a representantes do governo do Pará. No final de
dezembro de 2024, por exemplo, o MPF recomendou à Seduc a suspensão imediata da
implantação do Sistema Educacional Integrativo (Sei) em comunidades
indígenas.
Ao pé da letra
Em todas as manifestações, o MPF
ressalta que a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, o Plano Nacional de Educação (PNE) e outras normativas garantem aos
indígenas o direito a uma educação escolar de qualidade, diferenciada e
culturalmente adequada, que respeite suas especificidades culturais, línguas,
tradições e organização social. O MPF enfatiza também que a educação
escolar indígena deve ser pautada pelos princípios da interculturalidade,
bilinguismo e multilinguismo, especificidade, organização comunitária e
territorialidade.
Papo Reto
· Quem imagina que o Terminal
Turístico de Icoaraci, anunciado há mais de cinco anos, estará pronto para
receber o povo da COP30?
· Um
engenheiro que visitou a área dia desses jura de pés juntos que a obra deve
estar, no máximo, 15% concluída.
· Quer
dizer, quem precisar aportar em Belém pela Vila Sorriso vai mesmo ter que usar
aquele caótico trapiche do início do século passado, maquiado com
dançarinos de carimbó.
· Como não
foi suficientemente persuasivo para convencer o governo federal de que a Ponte
JK, em sua jurisdição, estava prestes a desmoronar, o chefe do Dnit em
Tocantins, Renan Bezerra de Melo Pereira (foto) acabou
afastado do cargo.
· A aprovação de leis
ambientais contrárias à legislação federal, no Mato Grosso, tem tudo para
terminar em B.O.
· A matéria ousa reclassificar
áreas da Amazônia como cerrado, a fim de favorecer atividades do agro.
· Pelo menos 13 mortos e 42
incêndios criminosos em 12 municípios é o saldo, até aqui, na guerra de facções
que assola Rondônia. Oxalá a moda não pegue.
· Em São Paulo, a 99 promete
pagar custos de motos apreendidas pela prefeitura, além de ressarcir o valor da
viagem a passageiros durante a guerra declarada para legalizar 100% o serviço.
· O Fundo de Financiamento
Estudantil avisa: as inscrições para o primeiro semestre começam dia 4 de
fevereiro, exclusivamente pela internet.
· Por sua vez, as inscrições
para o Programa Universidade Para Todos 2025 começam dia 24 e irão até 28 de
janeiro.
· A
lealdade dos cães vem de muito mais tempo do que se imaginava; ela começou há
cerca de 12 mil anos, concluiu recente pesquisa.