Grandes empreendimentos avançam e Pará patina no combate à contaminação de mangues

Mesmo com mais de dez áreas de preservação ocupando parte do total de 80% desse tipo de bioma na Amazônia, Estado perde a corrida para projetos que atropelam o meio ambiente.

30/11/2024 08:00
Grandes empreendimentos avançam e Pará patina no combate à contaminação de mangues
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m muitos pontos do Estado, as áreas de mangue têm sido comprometidas por grandes empreendimentos ou, simplesmente, contaminados por projetos turísticos quase sempre despreocupados com a poluição do entorno. Em outras oportunidades, a Coluna Olavo Dutra apresentou situações semelhantes em Salinópolis, Bragança e Alter do Chão, em Santarém.


Pressão sobre o meio ambiente em diversos pontos do Estado reduz capacidade dos mangues de absorção de dióxido de carbono/Fotos: Divulgação.

A Amazônia detém 80% dos manguezais brasileiros. Só no Pará, há mangues abrigados nas reservas extrativistas Mãe Grande de Curuçá, São João da Ponta, Caeté-Taperaçu, Tracuateua, Araí Peroba, Gurupi-Piriá, Chocoaré-Mato Grosso e Soure, além das reservas extrativistas marinhas de Mocapajuba, Mestre Lucindo e Cuinarana. O Brasil é o segundo país com maior extensão de manguezais no planeta, atrás da Indonésia.


Trata-se de um ecossistema que possui papel extremamente importante na absorção do dióxido de carbono, o vilão do aquecimento global, de acordo com uma recente pesquisa coordenada pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos. O novo estudo mostrou que mesmo após serem degradados, os mangues são capazes de absorver até três quartos do carbono que é lançado ao ar quando eles são destruídos. 


Combate e conscientização

No Pará, o governo do Estado criou o Dia Estadual de Proteção dos Manguezais como forma de intensificar a conscientização sobre o cuidado que esse ecossistema precisa ter. Mas a verdade é que o cuidado com os mangues é, quase sempre, uma iniciativa da própria comunidade, já que o sustento de milhares de famílias extrativistas vem deste bioma.


Muitas dessas famílias se organizam em Aurems - Associações de Usuários das Reservas Extrativistas Marinhas -, e na Rare, instituição não-governamental que apoia as Resex - Reservas Extrativistas. Este ano, essas instituições realizaram, em Belém, a 1ª Marcha dos Manguezais Amazônicos. Só no Pará, são 16 municípios costeiros onde os manguezais representam segurança para quem mora nas margens e sustento para quem vive do extrativismo.


Gestão racional

Em âmbito nacional, o Brasil possui agora uma iniciativa do governo para racionalizar a gestão desses ecossistemas. Lançado em junho por decreto, o Programa Nacional para a Conservação e Uso Sustentável dos Manguezais do Brasil - Pró-Manguezal - promete promover "a conservação, a recuperação e o uso sustentável da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos associados aos manguezais do País, considerando-se as diversas pressões sobre o ecossistema, incluindo a mudança do clima”.


Até agora, o BNDES já destinou 47 milhões para projetos de preservação e recuperação de mangue em diferentes pontos do Brasil. A coluna fez contato com o Ministério do Meio Ambiente para saber quanto desses recursos seriam destinados ao Pará, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

 

Enquanto isso, grandes empreendimentos seguem colocando em risco boa parte desse ecossistema - fundamental à vida e para a luta contra o aquecimento global. 


Secretário é convocado a

prestar esclarecimentos
sobre incêndios e fumaça
no interior do Estado


O deputado Rogério Barra, do PL, conseguiu aprovar requerimento de convocação do secretário de Meio Ambiente do Estado, Raul Protázio Romão, junto à Comissão da Casa. A convocação prevê que o representante do governo explique as medidas de combate às queimadas que devastam o Pará em regiões como Santarém, onde a situação é crítica. A fumaça gerada pelos incêndios tem impactado diretamente a qualidade de vida da população local. A audiência está marcada para terça-feira, às 14 horas.


Barra reclama do descaso do governo e diz que a Assembleia Legislativa tem a obrigação constitucional de fiscalizar as ações do Executivo. Para o deputado, a gestão estadual precisa esclarecer a falta de políticas efetivas na área de meio-ambiente.

O parlamentar destaca que o problema ambiental se estende a Marabá, Breves e Mosqueiro, impactando a saúde da população. “A população está adoecendo com vários problemas respiratórios, inclusive causando uma sobrecarga no sistema de saúde”. 

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