Evangélicos devem ultrapassar população de católicos em 2032, estima pastor Philipe Câmara

No Pará, dentre 1.576 templos religiosos, 114 estão em Ananindeua, que registra o maior crescimento depois da pandemia.

14/06/2024 12:00
Evangélicos devem ultrapassar população de católicos em 2032, estima pastor Philipe Câmara
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crescimento do número de evangélicos no Brasil se apresenta como um fato ao qual quase não há contestação. Em consonância com essa nova realidade, uma projeção feita pelo professor e demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, aposentado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, aponta que os evangélicos podem ultrapassar os católicos e ser maioria no Brasil na década de 2030, ou seja, em seis anos.


No nordeste do Pará, Ourém se destaca como o município mais católicos, segundo o Anuário da Diocese de Bragança/Fotos: Divulgação.

A estimativa de que haverá mais evangélicos no Brasil foi muito repercutida em todo País. Em fevereiro deste ano, um estudo preliminar do IBGE sobre o Censo de 2022 mostra que já em 2021 havia 14.294 estabelecimentos católicos e 87.571 templos evangélicos, numa proporção de 6,1 vezes mais. Quando se considera apenas o número de estabelecimentos religiosos, os evangélicos já superam os católicos.

 

Maiores concentrações

 

Os Estados Espírito Santo e Rio de Janeiro aparecem como aqueles onde há maior concentração de templos evangélicos em relação à população, com 80 a quase 100 templos por cada 100 mil habitantes. Já no Pará, esse número é menor, e o Estado nem está entre os cinco com mais igrejas evangélicas, apresentando de 40 a 60 templos por 100 mil habitantes.

 

Evangélicos no Pará

 

No Pará, um estudo mostrou que em 2022, após dois anos sob a epidemia da covid-19, o número de fiéis evangélicos teve grande crescimento em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém. O que chama a atenção é que, em quase três décadas, o número de igrejas do Evangelho Quadrangular, por exemplo, saiu de 36 para 392, no Estado. Segundo dados do IBGE, em 2019, o Pará possuía 1.576 instituições religiosas, 114 delas somente em Ananindeua.

 

Philipe Câmara, da Assembleia de Deus, em Belém, é mais preciso sobre o aumento do número de evangélicos e, para ele, as linhas entre protestantes e católicos se cruzam em 2032, com os primeiros passando os segundos, em uma espiral que é de alcance nacional.

 

“O aumento do número de evangélicos é um dado linear e ocorre no Brasil todo. Há Estados em que esse número é maior, mas não com muita diferença. Eu imputo esse aumento à mobilização de uma geração. A fé evangélica comunica melhor com os mais jovens, engajando e envolvendo a juventude”, destacou Câmara.

 

Bragança fica atrás

 

Ainda a título de exemplificação, um dado do Anuário 2024 da Diocese de Bragança, do nordeste paraense, mostra que nessa região, o município mais católico é Ourém, com 87,2% da população sendo dessa religião. Já Rondon do Pará tem 37,5% de evangélicos, liderando a lista dos municípios que seguem o protestantismo.

 

Novos templos

 

Os estudos do IBGE sobre o perfil religioso da população ainda não estão totalmente contabilizados em relação ao Censo de 2022, mas, com base em Censos anteriores, o Instituto aponta que os evangélicos foram o segmento religioso que mais cresceu no Brasil nos últimos 30 anos. Em 1980, eles representavam pouco mais de 6% da população, agora são 22%.

 

Outro estudo da Universidade de São Paulo - USP, por meio do Centro de Estudos da Metrópole, diverge dos números do IBGE, para cima, e aponta que de 17.033 templos evangélicos, em 1990, o Brasil passou a contar com 109.560, em 2019, em um aumento de 543%.

 

O pastor César Vasconcelos, da Assembleia de Deus, aponta que o crescimento da vertente evangélica no Brasil começa a se mostrar maior na década de 1980, quando a mensagem da Igreja Católica no Brasil começa a se alinhar com os movimentos sociais, caso da Teoria da Libertação.

 

“O que se percebeu foi um desalinhamento da realidade das pessoas, o que levou a uma busca que se amplia com a experiência de salvação pregada pela Bíblia. O que temos como desafio agora é saber se esse crescimento, que passa também pelas novelas na televisão, pela música evangélica e pelos políticos eleitos por evangélicos vai impactar positivamente e não ser apenas mais uma religião que surge, alavancando estatísticas”, pondera o pastor.  

 

Registro em carteira 

 

O levantamento, de 1990 a 2019, foi feito com base em dados do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ, que qualquer empresa, inclusive igrejas, precisa ter para operar no País. Essa facilidade trazida pela legislação é um dos fatores que pode ter provocado a abertura de novos templos.

 

Os outros fatores apontados são o crescimento do movimento evangélico no Brasil; a economia brasileira em alta nos anos 2000; e a dinâmica própria das igrejas evangélicas que se utilizam de uma espécie de “fidelização” dos frequentadores.

 

Vertentes evangélicas

 

O estudo da USP aponta que o maior ciclo de crescimento de templos evangélicos no Brasil ocorreu entre 2000 e 2016. São três os maiores grupos de evangélicos no Brasil, segundo os pesquisadores: missionários - ou tradicionais -, pentecostais e neopentecostais.


De acordo com o estudo do Centro de Estudos da Metrópole, em 2019 existiam no Brasil: 48.781 templos pentecostais; 22.400 templos missionários; e 12.825 templos neopentecostais.

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