crescimento do número de evangélicos no Brasil se apresenta como um fato ao qual quase não há contestação. Em consonância com essa nova realidade, uma projeção feita pelo professor e demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, aposentado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, aponta que os evangélicos podem ultrapassar os católicos e ser maioria no Brasil na década de 2030, ou seja, em seis anos.
A
estimativa de que haverá mais evangélicos no Brasil foi muito repercutida em
todo País. Em fevereiro deste ano, um estudo preliminar do IBGE sobre o Censo
de 2022 mostra que já em 2021 havia 14.294 estabelecimentos católicos e 87.571
templos evangélicos, numa proporção de 6,1 vezes mais. Quando se considera
apenas o número de estabelecimentos religiosos, os evangélicos já superam os
católicos.
Maiores concentrações
Os
Estados Espírito Santo e Rio de Janeiro aparecem como aqueles onde há maior
concentração de templos evangélicos em relação à população, com 80 a quase 100
templos por cada 100 mil habitantes. Já no Pará, esse número é menor, e o
Estado nem está entre os cinco com mais igrejas evangélicas, apresentando de 40
a 60 templos por 100 mil habitantes.
Evangélicos no Pará
No
Pará, um estudo mostrou que em 2022, após dois anos sob a epidemia da covid-19,
o número de fiéis evangélicos teve grande crescimento em Ananindeua, Região
Metropolitana de Belém. O que chama a atenção é que, em quase três décadas, o
número de igrejas do Evangelho Quadrangular, por exemplo, saiu de 36 para 392,
no Estado. Segundo dados do IBGE, em 2019, o Pará possuía 1.576 instituições
religiosas, 114 delas somente em Ananindeua.
Philipe
Câmara, da Assembleia de Deus, em Belém, é mais preciso sobre o aumento do
número de evangélicos e, para ele, as linhas entre protestantes e católicos se
cruzam em 2032, com os primeiros passando os segundos, em uma espiral que é de
alcance nacional.
“O
aumento do número de evangélicos é um dado linear e ocorre no Brasil todo. Há
Estados em que esse número é maior, mas não com muita diferença. Eu imputo esse
aumento à mobilização de uma geração. A fé evangélica comunica melhor com os
mais jovens, engajando e envolvendo a juventude”, destacou Câmara.
Bragança fica atrás
Ainda
a título de exemplificação, um dado do Anuário 2024 da Diocese de Bragança, do
nordeste paraense, mostra que nessa região, o município mais católico é Ourém,
com 87,2% da população sendo dessa religião. Já Rondon do Pará tem 37,5% de
evangélicos, liderando a lista dos municípios que seguem o protestantismo.
Novos templos
Os
estudos do IBGE sobre o perfil religioso da população ainda não estão
totalmente contabilizados em relação ao Censo de 2022, mas, com base em Censos
anteriores, o Instituto aponta que os evangélicos foram o segmento religioso
que mais cresceu no Brasil nos últimos 30 anos. Em 1980, eles representavam
pouco mais de 6% da população, agora são 22%.
Outro
estudo da Universidade de São Paulo - USP, por meio do Centro de Estudos da
Metrópole, diverge dos números do IBGE, para cima, e aponta que de 17.033
templos evangélicos, em 1990, o Brasil passou a contar com 109.560, em 2019, em
um aumento de 543%.
O
pastor César Vasconcelos, da Assembleia de Deus, aponta que o crescimento da
vertente evangélica no Brasil começa a se mostrar maior na década de 1980,
quando a mensagem da Igreja Católica no Brasil começa a se alinhar com os
movimentos sociais, caso da Teoria da Libertação.
“O
que se percebeu foi um desalinhamento da realidade das pessoas, o que levou a
uma busca que se amplia com a experiência de salvação pregada pela Bíblia. O
que temos como desafio agora é saber se esse crescimento, que passa também
pelas novelas na televisão, pela música evangélica e pelos políticos eleitos
por evangélicos vai impactar positivamente e não ser apenas mais uma religião
que surge, alavancando estatísticas”, pondera o pastor.
Registro em carteira
O
levantamento, de 1990 a 2019, foi feito com base em dados do Cadastro Nacional
da Pessoa Jurídica - CNPJ, que qualquer empresa, inclusive igrejas, precisa ter
para operar no País. Essa facilidade trazida pela legislação é um dos fatores
que pode ter provocado a abertura de novos templos.
Os
outros fatores apontados são o crescimento do movimento evangélico no Brasil; a
economia brasileira em alta nos anos 2000; e a dinâmica própria das igrejas
evangélicas que se utilizam de uma espécie de “fidelização” dos frequentadores.
Vertentes evangélicas
O
estudo da USP aponta que o maior ciclo de crescimento de templos evangélicos no
Brasil ocorreu entre 2000 e 2016. São três os maiores grupos de evangélicos no
Brasil, segundo os pesquisadores: missionários - ou tradicionais -,
pentecostais e neopentecostais.
De
acordo com o estudo do Centro de Estudos da Metrópole, em 2019 existiam no
Brasil: 48.781 templos pentecostais; 22.400 templos missionários; e 12.825
templos neopentecostais.