São Paulo, 08 - A apuração das notas do Carnaval do Rio de Janeiro, que sagrou a Beija-Flor como campeã, causou indignação a diferentes escolas, que reclamaram de tratamento diferenciado e de descontos mal justificados. As seis primeiras colocadas voltam a desfilar neste sábado, 8, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.
A Grande Rio, que ficou com o vice-campeonato, entrou com recurso junto à Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), organização responsável pelos desfiles, por ter percebido diferença entre as notas registradas pela Liesa no mapa de notas e as divulgadas na quarta-feira de cinzas. A agremiação de Duque de Caxias entendia que deveria dividir o primeiro lugar com a escola de Nilópolis.
A Liesa respondeu na sexta-feira, 7, que as notas seriam mantidas e que a Grande Rio continuaria vice-campeã; de acordo com a organização, houve erro de digitação no mapa de notas das escolas.
Outros recursos
A Unidos de Padre Miguel, que ficou em último lugar e foi rebaixada para a Série Ouro, também entrou com recurso na Liesa. A escola havia sido campeã do grupo de acesso em 2024. A agremiação da zona oeste do Rio apontou inconsistências nas justificativas apresentadas pelos jurados, como descontos dados por problemas em carros de som sob responsabilidade da organização do carnaval.
A Unidos também apontou "racismo religioso" na nota de uma jurada que reclamou do excesso de palavras em iorubá no samba-enredo. A escola disse que usou o dialeto africano em representação à sua cultura.
A Acadêmicos do Salgueiro, que ficou em 7° lugar e portanto não participa do Desfile das Campeãs, publicou críticas contundentes aos jurados. A escola do Andaraí disse que há "canalhas", "ladrões" e "ratos" entre os julgadores.
Mocidade, Vila Isabel e Tijuca também reclamaram do sistema de notas da Liesa. O Estadão entrou em contato com a Liesa, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto. Veja abaixo as reclamações de cada escola.
Grande Rio pede revisão das notas
O resultado do Carnaval carioca foi bem apertado: a Beija-Flor não teve descontos e ficou com 270 pontos; a Grande Rio perdeu apenas um décimo e ficou com 269,9 pontos. Ocorre que a agremiação de Duque de Caxias percebeu uma diferença entre as notas divulgadas na quarta-feira e as registradas pela Liesa no mapa de notas.
A discrepância seria no quesito bateria, o único em que a Grande Rio teve desconto. Na leitura dos resultados na quarta-feira, a escola levou duas notas 10 e duas 9,9. Como há descarte da nota mais baixa, a escola ficou com 29,9 no quesito - a Beija-Flor levou 30 pontos.
Porém, no mapa de notas da Liesa, ficou registrado que a Grande Rio levou três notas 10 e uma nota 9,9. A agremiação reivindicava que essa nota 9,9 fosse descartada, o que levaria a um empate com a concorrente de Nilópolis.
A Liesa disse que houve erro de digitação no mapa de notas e que o resultado seria mantido. Os jurados devem apresentar justificativas por escrito dos descontos atribuídos às escolas e, de fato, nesses documentos ficou claro que a agremiação levou duas penalidades.
As duas notas 9,9 foram atribuídas à bateria da Grande Rio pelos jurados Ary Jayme Cohen, que estava no módulo 2, e Geiza Carvalho, no módulo 4.
"Na última convenção apresentada ainda no módulo do julgador no final da bateria com os atabaques, a resposta das caixas sugeriu uma imprecisão com efeito de (flam)", justificou Cohen, ao descontar um décimo. No jargão dos ritmistas, flam significa que faltou sincronia na bateria, que "sobrou" algum naipe na retomada após bossas ou paradinhas.
Já Geiza reclamou dos curimbós: "Mestre Fafá, os curimbós soaram baixíssimos na apresentação da bateria no módulo 4. É importante adequar melhor os instrumentos inseridos no arranjo para que a perfeita execução das eventuais bossas e paradinhas possam ser executadas. Não houve projeção sonora do instrumento em questão, por isso foi descontado em 0,1", justificou.
Nas redes sociais, o mestre Fafá, que comanda a bateria da escola, disse que o problema registrado por Geiza era das caixas de som da Sapucaí, não de seus instrumentistas. Ele postou um vídeo da arquibancada, em que Fafá afirmava que os curimbós podiam ser ouvidos perfeitamente. "Isso é uma falha mecânica e não da bateria", disse ele.
No manual dos julgadores da Liesa, a recomendação é que os jurados não levem em consideração "eventual pane no carro de som e/ou no sistema de sonorização da Passarela".
Depois, mestre Fafá publicou outra mensagem, "de cabeça fria". "Eu vi minha escola fazer o seu desfile mais lindo de sua história e ao mesmo tempo vi esse desfile perder, em uma disputa décimo a décimo, justamente no quesito que defendo", escreveu. "Ao corpo de jul
O desfile da Grande Rio foi uma homenagem às águas do Pará: "Pororocas Parawaras: As Águas dos Meus Encantos nas Contas dos Curimbós". Um dos destaques foi a rainha de bateria Paolla Oliveira, em sua despedida da passarela.
Os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora esbanjaram luxo nas fantasias e alegorias e fizeram um desfile favorito ao título, de acordo com o repórter do Estadão Fábio Grellet
De acordo com o manual da Liesa, os jurados devem considerar, ao analisar a letra do samba, "a adequação ao enredo; sua riqueza poética, beleza e bom gosto; sua adaptação à melodia, ou seja, o perfeito entrosamento dos seus versos com os desenhos melódicos"
Foto: Agência Brasil