m 100 dias de administração, o prefeito de Belém, Igor Normando, do MDB, não resolveu o problema do lixo, não reduziu o número de DAS, acomodou adversários dentro do governo municipal e repete o mantra dos ônibus, mandantes do sistema, não por acaso financiadores de parte da campanha.
A promessa de uma nova era conduzida por um político jovem, impulsionada por uma vitória eleitoral que capitalizou o desejo de mudança na capital paraense, parece, para muitos, ter se embrenhado em uma trilha sinuosa, onde as expectativas iniciais se confrontam com a dura realidade da inexperiência, de decisões controversas e a persistência de problemas estruturais. Relatos de desacertos que circulam entre servidores, especialistas e a própria população pintam um quadro preocupante, onde a ascensão ao poder do primo do governador parece pavimentar um caminho de críticas e questionamentos que inevitavelmente remetem à fragilidade das promessas de campanha.
Reforma polêmica
Um dos pilares centrais da insatisfação reside na reforma administrativa polêmica implementada pela nova gestão. Sob o argumento de otimizar a máquina pública e reduzir custos, a proposta de fusão e extinção de diversos órgãos municipais deflagrou uma onda de apreensão e críticas.
Servidores manifestam preocupação com a possibilidade de perda de postos de trabalho, enquanto especialistas em administração pública alertam para o risco de descontinuidade de programas e serviços essenciais à população. A falta de diálogo transparente e a celeridade com que a reforma foi conduzida acentuaram a sensação de insegurança e a percepção de que a medida foi implementada sem a devida consideração para com o impacto em setores estruturais como educação, assistência social e cultura.
A alegação de racionalização de custos soa vazia para aqueles que temem ver a estrutura administrativa fragilizada e a qualidade dos serviços públicos comprometida em nome de uma economia que, até o momento, não se traduz em benefícios tangíveis para a maioria dos cidadãos.
Inimiga da perfeição
A complexidade da máquina pública municipal exigiria cautela, tempo e estudo aprofundado em qualquer reestruturação e, como a reforma Normando foi conduzida, levanta sérias dúvidas sobre sua eficácia e de seus reais objetivos. A incerteza paira sobre o futuro de inúmeros servidores municipais e sobre a capacidade do município de manter a qualidade dos serviços que a população tanto necessita.
Outro ponto nevrálgico que alimenta as críticas à gestão Normando é a dependência política e o parentesco em relação ao governador Helder Barbalho.
O parentesco, aliás, pesa. Ainda mais associado a um método desatencioso em relação ao potencial deletério do deboche. Em 100 dias, o prefeito ganhou apelidos, renegou promessas, aumentando o número de secretarias, negou espaços a aliados, contratou adversários notórios e estacionou no mais do mesmo, sobretudo por conta da dependência.
Influência danosa
A influência do chefe do Executivo estadual na campanha e, subsequentemente, nas decisões da prefeitura, é vista por muitos como um fator limitante da autonomia municipal e um possível direcionamento das políticas públicas para atender a interesses puramente partidários que transcendem as necessidades específicas de Belém.
Embora o apoio político seja frequentemente um componente importante na governabilidade, a linha tênue entre a colaboração institucional e a subordinação política parece, para alguns observadores, ter sido cruzada. A nomeação de figuras ligadas ao governo estadual para cargos estratégicos na administração municipal e a aparente subordinação entre as agendas dos dois entes federativos reforçam essa percepção de dependência.
A autonomia de Belém, como capital e centro urbano com suas próprias demandas e peculiaridades, poderia ser obscurecida por essa forte ligação, levantando questionamentos sobre a capacidade da gestão Normando de priorizar genuinamente os anseios da população municipal em detrimento de alinhamentos políticos mais amplos. A promessa de uma gestão focada nos interesses de Belém corre o risco de ser diluída em uma dinâmica de poder mais abrangente, agregada às táticas de Helder para 2026.
Finanças sob lupa
A gestão financeira da nova administração também se encontra sob escrutínio crescente. Uma das promessas de campanha de Igor Normando era a implementação de medidas de austeridade, incluindo a redução do número de secretarias municipais. No entanto, indicam que essa promessa não se concretizou e a estrutura administrativa parece manter um tamanho avantajado, com os gastos públicos continuando em patamares elevados.
A falta de transparência na divulgação dos dados financeiros detalhados da prefeitura alimenta a desconfiança e dificulta a avaliação objetiva da alocação dos recursos públicos. A população questiona a coerência entre o discurso de austeridade e a prática administrativa, especialmente em um cenário de desafios financeiros significativos enfrentados historicamente pelo município.
A persistência de gastos elevados em áreas consideradas não prioritárias, em contraposição às dificuldades em setores essenciais como saúde e limpeza urbana, gera indignação e levanta dúvidas sobre a real prioridade da gestão Normando na aplicação dos recursos públicos. A promessa de uma austeridade financeira, uma condução responsável e eficiente, ainda não se materializou de forma clara para a maioria dos belenenses.
Eternidade do lixo
A crise na saúde e na limpeza urbana são talvez os problemas mais visíveis e sentidos pela população de Belém, e a nova administração parece herdar e, em alguns aspectos, agravar essa delicada situação. A existência de dívidas milionárias nesses setores, acumuladas em gestões anteriores, representa um desafio considerável a mais. No entanto, a falta de soluções práticas e a persistência de problemas como a falta de medicamentos e insumos nos postos de saúde, a precariedade do atendimento médico e a ineficiência na coleta e destinação do lixo geram frustração e críticas entre analistas, organizações não governamentais e jornalistas.
A saúde pública, um direito fundamental, clama por investimentos urgentes e por uma gestão eficiente que priorize o bem-estar da população. Não se espera o paraíso, mas seria bom se afastar do valor do inferno.
Da mesma forma, a limpeza urbana, essencial para a qualidade de vida e a saúde pública, exige ações concretas e um planejamento estratégico de longo prazo. A questão do aterro sanitário e a falta de uma política de reciclagem consistente mostram que nada mudou desde a chegada dos ‘Igor-boys’ ao Palácio Antônio Lemos.
A sensação de abandono em relação a esses serviços básicos mina a confiança na capacidade da nova administração de solucionar, não apenas mediar, questões estruturais, e de garantir melhoria de vida para os cidadãos de Belém. A promessa de uma “cidade limpa” ainda não saiu dos tapumes e se distancia da realidade vivenciada por muitos.
100 dias sob críticas
Os primeiros 100 dias da gestão de Igor Normando em Belém foram marcados por uma série de críticas que questionam a coerência entre o discurso de campanha, as relações parentais e políticas com o governador e, de sobra, sua prática como gestor.
A polêmica reforma administrativa, a percepção de dependência política, a comprovada falta de austeridade na gestão financeira e a persistência da crise na saúde e na limpeza urbana lançam sombras sobre a promessa de uma nova era para a capital paraense e nos remete a um melancólico deja-vu que os animados vídeos no Tik-Tok ou o mimetismo com João Campos, prefeito de Recife, não ajudam a ocultar.
Caminho de ida e volta
A máxima de Heráclito, citada no início desta análise, parece ganhar contornos de grossos pincéis: o caminho da ascensão ao poder, pavimentado por expectativas e promessas, pode estar se revelando um declive íngreme, onde os desacertos e as críticas minam a confiança da população e desafiam a capacidade da nova administração de reverter a curva decrescente dessa trajetória. O tempo, senhor da razão, será o juiz implacável da jornada do jovem Igor Normando à frente da Prefeitura de Belém. A população está demonstrando paciência. Aguarda ansiosamente por sinais concretos de que o caminho da subida não se transformará em uma descida vertiginosa para as esperanças de uma cidade melhor.
A complexidade dos desafios exige respostas firmes e transparentes, e a população de Belém merece ver suas expectativas traduzidas em ações efetivas que promovam o bem-estar coletivo e o desenvolvimento sustentável da cidade.
A escalada inicial parece ter encontrado obstáculos significativos, e a habilidade da administração Normando em superá-los determinará se o aforismo de Heráclito se confirmará para ele como um prognóstico ou como uma sentença.
Papo Reto
·Dia 25 agora, haverá uma “grande festa” - um ato “gigante”, por assim dizer - de filiação de Cássio Andrade (foto) e outros egressos do PSB no MDB.
·Ônibus e pobres estão sendo recrutados para gerar plateia. O deputado Fábio Filgueiras permanecerá no PSB até a próxima janela, com a promessa de migrar para a legenda do governador.
·É uma escolha natural, a de Cássio Andrade, desde que, na prática, transformou o PSB em mero puxadinho do MDB.
·O PSB não é partido pequeno: recebeu R$ 267 milhões do Fundo Eleitoral em 2024 e R$ 147,6 milhões do Fundo Partidário em 2025.
·Enquanto isso, dizem que a perda do controle do partido mina o projeto de Cássio Andrade à Câmara Federal.
·Resumo da ópera: o prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, bafejado pela sorte política por ações e estratégias desengonçadas do governo, passa a ter o controle total do partido.
·A presença do ex-prefeito de Conceição do Araguaia Jair Martins, do MDB, em Parauapebas, despertou ciumeira no deputado Chamon e na turma do partido no município.
·Jair Martins deu um drible geral, colocando o prefeito Aurélio Goiano no colo do governador Helder Barbalho