tribui-se a vários autores a expressão “sensação de insegurança” em Belém, mas, politicamente, ela foi explorada à exaustão pelos adversários como sendo do governador Almir Gabriel, então no primeiro governo. A contextualização da circunstância aponta que, de fato, àquela altura, o governo do Estado tentava contornar uma crise na segurança pública, usando a expressão, segundo a oposição da época, para “minimizar os fatos”. A expressão virou peça de resistência entre as autoridades do governo tucano, principalmente em reuniões de gabinete e também teria sido usada pelo então secretário de Governo Manoel Santino em uma entrevista ao jornal “O Liberal”.
Atualmente, o governo Helder Barbalho, do MDB, tem batido insistentemente a tecla segundo a qual a violência está sob controle no Pará - e em Belém, por óbvio -, inclusive com dados divulgados em relatórios oficiais produzidos em Brasília com base em informações da Secretaria de Segurança Pública do Estado. São números questionáveis, como amplamente noticiado, mas é o que se tem e ponto final - muito embora a realidade das ruas mostre outra coisa bem diferente.
Discurso e realidade
Na última quinta-feira, 13, por exemplo, “assaltantes roubaram armas dos vigilantes e um aparelho de tv na Agência do Banpará dentro da Secretaria de Transporte do Estado”, em Belém, diz um comunicado encaminhado à Coluna Olavo Dutra por funcionários da Secretaria. A denúncia chegou com fotos e vídeos da ação policial logo após a ação criminosa.
A semana começou com certa tensão na Segurança Pública em Belém, onde policiais civis, depois de uma assembleia geral, desencadearam uma série de manifestações em defesa da categoria. “Protestos brancos”, por assim dizer, dentro da ordem, pacificamente. O movimento é conduzido pela Associação, a Adepol, e o Sindicato dos Delegados, o Sindelp, em defesa de “pautas urgentes”, uma delas as negociações com o governo do Estado sobre as demandas para 2025, marcada por uma mobilização, na quarta-feira, 12, com a presença de cerca de 100 policiais.
Na tarde de quarta-feira, o governador Helder Barbalho esteve na Delegacia-Geral de Polícia Civil para entregar 2 mil unidades de coletes balísticos, com investimento de R$ 4,8 milhões do Fundo de Investimento de Segurança Pública. Na assembleia geral, os delegados reagiram com insatisfação à medida. “De nada adianta “viatura nova, reluzente, com o brasão do Estado brilhando ao sol e tudo parecer perfeito” se, quando um delegado sai para investigar e vê o marcador de combustível, tem apenas R$ 280 para usar durante a semana”, dizem. “Como combater o crime, perseguir criminosos, atender a ocorrências e patrulhar as ruas com um tanque vazio?”, questionam.
“Polícia de Instagram”
A categoria reclama contra a “falta de reconhecimento do governo do Estado para com o grande trabalho que os policiais têm feito para reduzir a criminalidade e garantir a segurança pública”. Eles trajavam roupas pretas, sem armas pessoais ou institucionais, e sob intensa chuva, posicionados em frente ao portão da delegacia com a faixa “Valorização dos delegados já!”.
É nesse ponto que a Associação e o Sindicato denunciam o que entendem como “uma ilusão da segurança em uma realidade que o governo não mostra”. É uma Polícia de Instagram, com carros novos para foto, mas sem estrutura para a realidade. Enquanto isso, os delegados enfrentam falta de investimentos, salários defasados e condições precárias de trabalho”
Segurança pública, segundo as entidades da Polícia Civil do Pará, não se faz com maquiagem e marketing: se faz com investimento real, respeito e valorização”, dizem.
Em carta aberta enviada aos associados, a Associação relata que o Pará encerrou 2024 com o melhor ano em redução da Criminalidade Violenta Letal Intencional dos últimos dez anos, com uma queda de 53,34% nos crimes em comparação a 2018, com mais de 2 mil vidas preservadas. Apesar desses números, a categoria continua sendo negligenciada. Mesmo com a inflação acumulada em 38,88%, os policiais só tiveram 10,5% de reposição salarial, concedida a todos os servidores públicos em 2022. Se no ano de 2023 investigadores, escrivães, papiloscopistas e servidores administrativos receberam uma recomposição salarial de 15%, os delegados receberam um aumento simbólico de pouco mais de R$ 200.
Nomeações duvidosas
Na carta, os policiais apontam que o pouquíssimo avanço das negociações das pautas da categoria se daria por uma suposta crise nas contas públicas do Estado, mas apontam que o mesmo governo fechou um patrocínio de R$ 15 milhões para a Escola de Samba Grande Rio para o carnaval 2025. E mais: dizem que a estagnação nas carreiras se dá em razão de falhas do atual Sistema de Progressão Funcional, e que as raras vagas que surgem não são preenchidas com critérios claros e objetivos.
Também não acreditam que o que eles classificam como um “cala boca”, ou seja, o auxílio-uniforme no valor de R$ 2 mil, que poderá ser pago por uma proposta da Secretaria de Segurança, venha a ser uma solução, uma vez, que esse auxílio não irá contemplar delegados aposentados.
Papo Reto
·Do advogado José Carlos do PV (foto): a crise no recolhimento de entulhos em Belém revelou um verdadeiro desencontro de linguagem entre a prefeitura e a população.
·O serviço existe, mas só pode ser solicitado por meio de chatbot, uma ferramenta digital que simula conversas por mensagem.
·Seu João da Silva, morador antigo da cidade, ouviu dizer que precisava falar com o tal chatbot para pedir a coleta. Sem internet, sem familiaridade com computadores e sem filhos jovens para ajudar, ficou perdido.
·Procurou pelo prédio do chatbot, mas não encontrou. Sem saber onde buscar atendimento, restou-lhe apenas conviver com o entulho na porta de casa.
·Amostras de solo de Belém estão sendo levados e estudados em um complexo de laboratórios em Campinas em pesquisa com bactérias para desenvolvimento de novos medicamentos.
·O Tribunal de Contas da União decidiu liberar os R$ 6 bilhões - dos R$ 13 bilhões - necessários aos pagamentos do programa Pé-de-Meia.
·A Agência Nacional de Saúde Suplementar abriu consulta pública para dissecar a cobertura de um novo medicamento para câncer.
·Já não sem tempo, o Instagram adotou restrições em contas de adolescentes no Brasil, incluindo, em alguns casos, a necessidade de autorização de pais ou responsáveis.
·A primeira carne de laboratório do mundo, o snack, produzida para pets a partir da colheita de uma pequena amostra de células animais, já está disponível nos mercados do Reino Unido.
·Macabro, mas um detalhado estudo revela que os primeiros europeus tinham por hábito comer o cérebro de seus inimigos.