Nove anos após o início da Lava Jato, a
força-tarefa - que chegou a ser considerada a maior cerca a políticos suspeitos
de desvios de recursos públicos da história - acumula derrotas nos tribunais
superiores do País.
Nesta terça-feira, 19, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal
(STF), determinou a nulidade absoluta de todos os atos praticados em processos
da Operação Lava Jato contra o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB),
atualmente deputado federal. Outros nomes denunciados também foram absolvidos
ou tiveram condenações anuladas no decorrer de 2023: o ex-ministro José Dirceu,
os ex-governadores do Rio Luiz Fernando Pezão e Sérgio Cabral, o ex-presidente
da Câmara Eduardo Cunha e o ex-deputado federal André Vargas.
O ex-ministro José Dirceu, que comandou a Casa Civil no primeiro mandato do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi absolvido no início de dezembro em
uma ação penal da Operação Lava Jato que se arrastava desde 2017. Ele foi
acusado pela força-tarefa de lavar dinheiro de propina das empreiteiras UTC e
Engevix.
A decisão foi tomada pelo juiz federal Fábio Nunes de Martino, que assumiu a
13.ª Vara Federal de Curitiba. Ele concluiu que o Ministério Público Federal
errou na tipificação dos crimes. Para o magistrado, o que os procuradores
apontam como lavagem de dinheiro é, na verdade, corrupção.
Martino assumiu em novembro a titularidade da 13.ª Vara Criminal, base e origem
da Lava Jato, que foi conduzida no auge pelo ex-juiz Sergio Moro, hoje senador
(União-PR). Dessa forma, ele Martino se tornou responsável pelo que restou da
Lava Jato, extinta em meio a acusações de excessos. Uma das ações remanescentes
era essa contra Dirceu.
Luiz Fernando Pezão
A Justiça Federal no Rio de Janeiro reformou, em abril, a sentença do juiz
federal Marcelo Bretas e absolveu o ex-governador do Rio de Janeiro Luiz
Fernando Pezão das acusações de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro
e participação em organização criminosa decorrentes da versão fluminense da
Lava Jato.
Bretas, que está afastado do cargo de juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio
por decisão do Conselho Nacional de Justiça, condenou Pezão a 99 anos de prisão
por esses crimes, em 2021. A defesa do ex-governador recorreu e o Tribunal
Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) aceitou os argumentos e reformou a
decisão, livrando Pezão das acusações.
Sérgio Cabral
Símbolo da Lava Jato no Rio, o também ex-governador do Rio Sérgio Cabral, que
chegou a ser condenado a mais de 400 anos de prisão por casos de corrupção, se
livrou de uma das acusações em março deste ano. Ele foi absolvido em um
processo em que era acusado de receber propina de empreiteiras por
irregularidades em licitações.
Na sentença, a juíza Maria Paula Gouvêa Galhardo, da 4ª Vara da Fazenda Pública
do Rio, apontou ausência de provas e "atuação tímida do Ministério Público
no caso".
André Vargas
Em outro dos revezes do ex-juiz federal Sérgio Moro e da Lava Jato, a Segunda
Turma do Supremo Tribunal Federal anulou,em setembro, uma condenação imposta ao
ex-deputado federal André Vargas, um dos primeiros sentenciados no bojo da
Operação.
O colegiado, com a relatoria do ministro Cristiano Zanin, estendeu os efeitos
de um decisão anterior da Corte máxima e reconheceu a incompetência da 13ª Vara
Federal de Curitiba para atuar no caso em que Vargas foi acusado de corrupção e
lavagem de dinheiro por usar sua influência como deputado para atuar em
contratos no âmbito da Caixa Econômica Federal.
Vargas foi preso em abril de 2015, condenado a penas que somadas chegam a 15
anos pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Eduardo Cunha
Em maio, a Segunda Turma do STF decidiu, por três votos a dois, anular uma das
condenações do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha na Operação
Lava Jato, após ver incompetência da Justiça Federal para julgar o processo. A
sentença derrubada pela Corte máxima havia imposto 15 anos e onze meses de
prisão de prisão a Cunha, por corrupção e lavagem de dinheiro.
A ação que agora foi enviada para a Justiça Eleitoral era a última que
tramitava na Justiça Federal, no bojo da Lava Jato, contra Cunha. Agora cabe
aos juízes eleitorais analisarem as acusações que pesam contra o ex-presidente
da Câmara por delitos conexos à esfera eleitoral.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Tânia Rêgo/EBC/FotosPúblicas