Meio Ambiente

COLUNA VER AMAZÔNIA: Quem realmente se importa com o aquecimento global?

O calor virou epidemia, o desmatamento continua e os governos bradam

Mariluz Coelho/João Ramid | Especial para o POD

11/08/2024 13:03
COLUNA VER AMAZÔNIA: Quem realmente se importa com o aquecimento global?





Belém, a capital da COP30, sofre com calor extremo.

A pergunta feita por um adolescente de 15 anos, nascido em 2009, intriga e faz pensar: “fala sério! Quem realmente se importa com o aquecimento global”?    


A Coluna Ver Amazônia termina a série de reportagens sobre o calor extremo com essa indagação, que é muito representativa. No planeta terra aquecido, moram mais de 8 bilhões de pessoas, em 195 países. Quem realmente se importa com o que está acontecendo, quem acredita e quem percebe que o clima mudou? 



O sacrifício de árvores na Amazônia para construção da Hidrelétrica de Tucurui
Sacrifício de árvores


Não é de hoje que os cientistas e ambientalistas do mundo inteiro alertam para o aquecimento do planeta e as consequências para a humanidade. O que era um grito de alerta em 2009, quando o adolescente nasceu, hoje é um grito de socorro em vários locais do planeta. Vivemos a crise climática e estamos em emergência. 


O aquecimento chega em forma de desastre, entre secas, enchentes e incêndios. Desde julho deste ano, quando foram registrados os dias mais quentes da história, a ONU classificou o calor extremo como epidemia. No mesmo sentido, a OMS alertou para a ameaça de doenças e mortes. Temperaturas acima de 40°C e até 50°C são cada vez mais frequentes e mortes por calor chegam a quase meio milhão por ano.




Diante da pobreza, preocupação ambiental está em segundo plano.


Fazer o quê? 


De um lado, autoridades e os organismos internacionais buscam soluções para os efeitos das mudanças climática. Do outro, cresce a percepção entre as pessoas de que algo está fora do lugar em relação ao clima.


Em 2021, uma pesquisa do Yale Program on Climate Change Communication, revelou que cerca de 70% dos norte americanos estavam preocupados com o aquecimento global. Em países como a Suécia, o Canadá e a Alemanha, aproximadamente 80% das pessoas acreditam nas alterações do clima e das consequências para a vida humana (Pew Research Center).

A crença na crise climática está diretamente ligada a alguns fatores, como níveis de vulnerabilidades sociais. Nos países da África e da América Latina, por exemplo, as pessoas estão mais preocupadas com a sobrevivência diante da pobreza e da fome. 






Negacionismo ambiental 


Tem os que reconhecem e também os que negam. O negacionismo ambiental ocorre em todos os países, ricos ou pobres. Alguns por crença ideológica ou religiosa, outros para manter os padrões de produção que movimentam economias, mas, sacrificam o planeta. É o caso dos que defendem o uso dos combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão), os maiores poluidores da atualidade. 


As carvoarias consomem árvores e agravam o aquecimento do planeta.


Mesmo reconhecendo a crise climática, a maioria das pessoas ainda parece estar apática diante do problema.  Muitos não querem experimentar emoções negativas e seguem a vida como se nada estivesse acontecendo. 


Lei do retorno


A relação com a natureza é uma espécie de toma lá dá cá. Os efeitos das alterações do clima voltam em forma de desastres. Mas, se o tratamento começar a mudar, a natureza muda e retribui positivamente, mantendo a vida socioambiental da forma que foi criada. 


Árvores amenizam a temperatura em até 12 graus.


Remédio para o calor 


Um projeto em andamento na Universidade Rural da Amazônia (UFRA), é um exemplo de ações que podem contribuir para esfriar o planeta. A solução é simples, barata, mas, precisa das pessoas. Dois pesquisadores da UFRA, Joze Nunes de Freitas e Cândido Neto, comandam o projeto Semente do Amanhã, Belém mais verde, que trabalha para arborizar da capital da COP 30.


O pesquisador da UFRA, Cândido Júnior, registra temperaturas acima de 50º em áreas sem árvores.


Belém esquenta  


Até 2050, Belém poderá ser a segunda cidade mais quente do planeta. Seriam 200 dias de calor extremo com sensação térmica próxima de 48 graus, segundo um estudo desenvolvido nos Estados Unidos e publicado no The Washington Post.  


A Coluna Ver Amazônia acompanhou o trabalho dos pesquisadores (assista o Ver Amazônia em Vídeo). Usando o fototermal, equipamento que mede a temperatura próxima ao solo. A ciência mostra que a árvore em pé é remédio para o calor. 


Derrubada para plantação de soja no Baixo Amazonas

Diferença assustadora


O estudo mostrou que a diferença entre um ponto arborizado e outro sem árvore em Belém chegou a até 12 graus. Plantar árvore é importante para reduzir os efeitos do aquecimento global. A melhor escolha está ao alcance das mãos, espécie nativa nossa, o pau preto ou pretinho. O projeto também prevê a colocação de QR Code para identificar as árvores.


Uma árvore pode ser uma gota do remédio. Mas, se plantamos juntos, multiplicamos isso. Afinal somos 8 bilhões de pessoas no mundo. As árvores são uma solução natural e eficaz para amenizar o calor, melhorar o conforto térmico e contribuir para a mitigação das mudanças climáticas, especialmente em ambientes urbanos.


Farol Ver Amazônia 


Caiu

O sistema de alertas de desmatamento do INPE (Deter), apontou queda do desmatamento em 45,7% na Amazônia brasileira, no período de agosto de 2023 a julho deste ano. A área de alerta de desmatamento em 2024 foi a menor já medida pelo sistema Deter-B, do Inpe: 4.314 km2.


Mas, subiu

Mesmo com a queda no acumulado no último ano, o desmatamento voltou a subir na

Amazônia em julho. O bioma também registrou aumento nos focos de calor, segundo o Greenpeace Brasil. Foram desmatados 666 km² em julho deste ano, contra os 499,91 km² registrados em julho do ano passado, um aumento de 33,2% para o período. 


No vermelho 

A coordenadora de Florestas do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti, analisa que o período é de extrema atenção, uma vez que a Amazônia já registra recorde de queimadas e deverá passar por uma seca sem precedentes. Ela diz que a situação dos próximos meses não traz otimismo, já que a Amazônia está em seu período de estiagem e deve passar por mais um episódio de seca extrema, a exemplo do ocorrido no ano passado. 


Migração

Caiu na Amazônia e subiu no Cerrado, um dos biomas mais devastados do Brasil. Na análise do Observatório do Clima os alertas de desmatamento foram os maiores da série iniciada em 2018, com 7.015 km2, uma alta de 9% em relação ao ano passado, o que já era o recorde das medições do Deter-B.


Vazando

O Observatório do Clima aponta que a migração do desmatamento sugere que a destruição ambiental para a produção de carne e soja pode estar “vazando” a floresta para a savana, onde há menos controle do governo federal, porque as terras são quase todas privadas. 



A Ver Amazônia em Vídeo mostra como a árvore pode ser um remédio para o calor extremo. Uma solução simples ao alcance das mãos.

Assista ao vídeo!








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