A Amazônia é um mar de oportunidades para o turismo sustentável, como o surf na Pororoca, um fenômeno natural do rio Amazonas. Este atrativo tem grande potencial para gerar emprego e renda nas comunidades locais, mas ainda recebe um número reduzido de turistas
A questão é como aliar os princípios do turismo sustentável com a necessidade de turismo de massa, que desenvolve economicamente o setor? Esta é a resposta que vale um milhão. Na mesa do G20, que reúne as 19 maiores economias do planeta, os membros do grupo e dos países convidados buscaram estabelecer as bases do turismo sustentável no planeta, que foram declaradas na Carta de Belém. O documento foi aprovado por unanimidade, depois de três dias de evento, de 19 a 21 de setembro, sob a presidência do Brasil.
Turismo e clima
Os representantes dos países discutiram o cenário do turismo global, mas, nas entrelinhas, o tema das mudanças climáticas emergiu como uma questão central. Não por acaso: a crise climática está cada vez mais evidente. Em 2024, vivemos os meses mais quentes já registrados na história — o que o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, classificou como uma 'epidemia de calor extremo’.
O aquecimento global acelera, as geleiras derretem e o nível do mar sobe, ameaçando diretamente as cidades costeiras, especialmente aquelas situadas em áreas de risco abaixo do nível do mar. A indústria do turismo sente esse impacto de forma imediata. Já é consenso no setor que o modelo antigo de turismo de massa, sem preocupações com a sustentabilidade ambiental, não tem mais espaço nesse novo cenário imposto pelas mudanças climáticas.
Os critérios globais do turismo sustentável visam maximizar benefícios sociais e econômicos para as comunidades locais, minimizar impactos culturais negativos e reduzir danos ambientais, promovendo o equilíbrio entre o turismo e a necessidade de preservar o meio ambiente.
Riquezas da Amazônia
Antes da reunião técnica no Hangar Centro de Convenções da Amazônia, o ministro do Turismo do Brasil, Celso Sabino, quebrou o protocolo e atravessou o rio Guamá. Os ministros do G20 e países convidados visitaram a Ilha do Combu, em frente à capital paraense, Belém. O local já havia sido visitado, este ano, pelo presidente francês Emmanuel Macron.
Entre os 44 convidados para a visita, estavam ministros da Arábia Saudita, Portugal, Alemanha, Uruguai e Colômbia. Todos experimentaram a rica culinária paraense e ficaram encantados. O ministro do Turismo de Portugal, Pedro Machado, mostrou-se impressionado com a abundância de água na região.
Ele destacou a importância da Amazônia para o mundo e reforçou que todos os países precisam se engajar na agenda de sustentabilidade no turismo e nas discussões sobre as mudanças climáticas.
"Observando essa abundância de água, é preciso entender que o mundo não é assim em todos os lugares. Há uma pressão sobre os recursos, especialmente os hídricos, e em muitos países a água é um bem escasso", afirmou Machado. Ele também ressaltou a conexão histórica e natural entre Brasil e Portugal, que tende a ser ainda mais fortalecida no turismo e em outras áreas.
Novo turismo
Os membros do G20 e países convidados aprovaram o compromisso coletivo de promover um turismo sustentável, resiliente e inclusivo. Reconhecendo o papel importante do setor na promoção da sustentabilidade econômica, social e ambiental, comprometem-se a alinhar seus esforços com a Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável e com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Os países também enfatizam a necessidade de oportunidades de treinamento inclusivas, garantindo que jovens, mulheres, pessoas em situações vulneráveis, comunidades locais e povos indígenas, quando apropriado, tenham acesso ao desenvolvimento profissional no setor de turismo.
A Declaração de Belém ainda recomenda que organizações multilaterais e internacionais, bem como instituições financeiras, forneçam linhas de financiamento em quatro áreas prioritárias diretamente relacionadas ao turismo: resiliência climática e turismo positivo para a natureza, desenvolvimento social, criação de novos produtos turísticos em comunidades locais e desenvolvimento de infraestrutura turística compartilhada.
Legado
O relatório indica que o aumento do apoio financeiro nessas áreas é essencial para garantir o pleno potencial do turismo, promovendo crescimento sustentável e prosperidade compartilhada.
O ministro Celso Sabino classificou a "Declaração de Belém" como um legado para o turismo global. "Essa declaração reflete nosso compromisso com um futuro mais sustentável e inclusivo para o turismo. Agradecemos a todos os participantes por suas contribuições e pela parceria em construir um caminho mais resiliente para o setor”, concluiu.
Farol Ver Amazônia
Tecnologias para desaquecer
Novas tecnologias trazem esperança para o combate às mudanças climáticas, afirma a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Cientistas alertam que há mais de 66% de probabilidade de o aquecimento global atingir 3°C neste século. Ferramentas como satélites, realidade virtual imersiva e inteligência artificial são vistas como potenciais "divisores de águas" na adaptação às mudanças climáticas e na prevenção de desastres.
Pacto Global
O ator e apresentador brasileiro Lázaro Ramos participou, nesta sexta-feira, de um evento organizado pelo Pacto Global na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. Durante sua palestra intitulada "Como comunicar o que para alguns parece invisível", Ramos defendeu a construção de um planeta "mais cuidado" e alinhado com as demandas atuais.
Respirar melhor
A skatista brasileira e medalhista olímpica Rayssa Leal de 16 anos também participou do Pacto Global na ONU. Durante a entrevista, ela destacou a necessidade de mais apoio aos jovens no esporte e expressou seu desejo por um mundo com mais oportunidades e onde "todos possam respirar um ar mais limpo.”
Esperança
Novas análises indicam que a camada de ozônio será totalmente recuperada até 2040, caso as políticas atuais continuem em vigor. O secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou o Protocolo de Montreal como um exemplo de sucesso da cooperação internacional. As avaliações recentes apontam para uma "recuperação real e duradoura" no longo prazo.
Esta edição contou com fotos de Roberto Castro, Uchôa Silva e Raimundo Pacó