Meio Ambiente

Coluna Ver Amazônia: Brasil no contra-ataque a um inimigo desconhecido e perigoso`

Nesta edição, analisamos os riscos e desastres no Brasil sob três perspectivas distintas, mas que se complementam neste cenário de emergência climática.

Mariluz Coelho/João Ramid | Especial para o POD

06/10/2024 09:42
Coluna Ver Amazônia: Brasil no contra-ataque a um inimigo desconhecido e perigoso`

A necessidade de respostas eficazes no território brasileiro nunca foi tão urgente diante dos impactos cada vez mais evidentes da crise do clima. Mas, não é possível pensar em gestão de riscos e desastres sem o engajamento direto da população. Embora os países já tenham consciência dessa necessidade, muitos ainda enfrentam dificuldades em transformar essa compreensão em ações concretas.


O envolvimento das comunidades não pode ser tratado de forma pontual. É fundamental oferecer informação qualificada e fomentar uma cultura de resiliência contínua. No entanto, o que vemos hoje, tanto no Brasil quanto em muitos outros países, são iniciativas fragmentadas, que acabam sendo insuficientes para enfrentar a magnitude dos desafios climáticos. A mudança precisa ser estrutural e constante, não apenas reativa.


Um trabalhador, um cacique e um ministro


Nesta edição, a coluna Ver Amazônia analisa os riscos e desastres no Brasil sob três perspectivas distintas, mas que se complementam neste cenário de emergência climática.


Para entender os desafios da gestão dos riscos climáticos no Brasil, ouvimos Maibe dos Santos, trabalhador braçal da cidade de Belém, o cacique Okara Assuri, da região do Xingu, e o ministro das Cidades, Jáder Filho, que em novembro, ao lado do ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, liderará em Belém a reunião do Grupo de Trabalho de Redução do Risco de Desastre do G20.


E esse calor?


Aumento das temperaturas expõe trabalhadores a riscos crescentes.


Maibe dos Santos, 42 anos, trabalhador do Ver-o-Peso em Belém, Amazônia, lida diariamente com o calor extremo. "Me sinto cansado e sem força", relata. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta que milhões de trabalhadores no mundo estão em risco de vida devido à exposição ao calor. Dados da ONU indicam que mais de 70% da força de trabalho global enfrenta esse risco.


"Antes, eu carregava um saco de açaí sem problemas. Agora, mal consigo devido ao sol", conta Maibe, que descreve o cansaço e a sede que enfrenta diariamente. "A gente anda um pouco e já não suporta mais. Por que o calor está assim?", questiona o trabalhador.

A pergunta de Maibe reflete a inquietação de muitos brasileiros, especialmente dos mais vulneráveis, que têm pouco acesso a informações sobre os riscos que enfrentam diariamente em suas atividades. O aumento das temperaturas e a falta de proteção adequada colocam essas pessoas em situações de perigo crescente.


Aldeia Assurini sofre impactos


  


Seca do Xingu preocupa: "Verão está estranho", diz cacique.


A aldeia Assurini, comandada pelo cacique Okara, localizada no alto rio Xingu, no Pará, está sendo afetada pela seca do rio, que sempre foi a fonte de alimentos (peixe) para os povos indígenas que habitam a região. “A natureza nos dá tudo que precisamos e sempre cuidamos dela para que nunca falte nada para nós”, conta o Okara.


Essa relação intrínseca que os povos tradicionais possuem com a floresta amazônica, em uma troca historicamente saudável, um cuidando do outro, está sendo afetada pelo agravamento das questões climáticas. A ONU já classifica que vivemos “um novo

normal”. Significa que temos que aprender a ser mais resilientes para uma adaptação aos novos tempos do clima no planeta. Mas, até que ponto o ser humano aguenta mudanças tão buscas no seu modo de vida?


“ Este verão está estranho”. Com essa frase o cacique Okara Assurini demonstra que, os povos que sempre mantiveram uma relação saudável com a Amazônia, percebem que algo está fora do lugar. O calor extremo já afeta a vida na floresta, mesmo nos locais onde a Amazônia resiste à degradação ambiental, que é o caso das áreas indígena protegidas. O cacique percebe, mas, não sabe dizer o que acontece.


Participação popular


Jader Filho, ministro das Cidades. (Foto: Divulgação)


O ministro das Cidades, Jáder Filho, concedeu uma entrevista à Ver Amazônia sobre a gestão de riscos de desastres no Brasil e a urgência de medidas eficazes para fortalecer a resiliência frente ao "novo normal" climático.


Em novembro, Jáder, juntamente com o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, coordenará a reunião do Grupo de Trabalho de Redução de Risco de Desastres do G20, que ocorrerá em Belém.


A pasta liderada pelo ministro das Cidades é responsável pela prevenção de riscos e desastres no país, sob a gestão da Secretaria Nacional de Periferias. A secretaria já iniciou ações voltadas à conscientização e envolvimento das comunidades. Um exemplo é a cartilha "Periferia Sem Risco", que está disponível online https://www.gov.br/cidades/pt- br/assuntos/publicacoes/periferias/publicacoes-periferias


A primeira reunião do G20 sobre riscos e desastres foi no Rio de Janeiro. (Foto: Assessoria de Imprensa G20).


Até 2022, a gestão de riscos e desastres no Brasil era limitada a ações da Defesa Civil, com momentos em que o já reduzido orçamento destinado ao tema sequer era utilizado. Com o agravamento da crise climática e a mudança de governo, a questão ganhou destaque e hoje é uma das prioridades nas políticas públicas nacionais.


“O orçamento destinado à prevenção de desastres no Brasil nunca foi tratado de maneira tão séria. Quando o atual governo assumiu, em janeiro de 2023, o Ministério das Cidades tinha apenas R$ 27 milhões para investir em prevenção em todo o país”, afirma o ministro Jáder Filho.


Segundo o titular do Ministério das Cidades, logo na PEC da transição, esse montante subiu para R$ 256 milhões, chegando a R$ 636 milhões no primeiro orçamento do governo Lula. Além disso, o ministro anuncia que o PAC destinou mais de R$ 15 bilhões para obras de drenagem e R$ 1,7 bilhão especificamente para prevenção de desastres.


Falta ação e percepção


Ribeirinhos da Amazônia enfrentam cheias severas sem entender a causa.


O Brasil ainda está nos primeiros passos quando se trata de gestão de riscos e desastres. Por não estar na rota de grandes fenômenos naturais, como terremotos, tsunamis e furacões, o país nunca desenvolveu uma cultura sólida de prevenção e segurança entre os brasileiros.


A gestão de riscos no Brasil sempre esteve limitada à atuação das forças de defesa. Nos casos de enchentes, secas e deslizamentos, a Defesa Civil era acionada. O ministro das Cidades, Jáder Filho, afirma que essa realidade precisa mudar.


"Precisamos abordar o tema de maneira contínua, não apenas de forma pontual", destacou o ministro. "Não adianta passar quatro anos sem investimentos e depois tentar resolver tudo na crise. A resiliência das cidades depende de projetos permanentes.”


Comunicação com as pessoas


Gestão de riscos deve ser adaptada à diversidade do Brasil, um país continental.


Mesmo nos países com maior tradição em gestão de desastres, o tema comunicação específica de risco está ausente dos sistemas de governança. No Brasil é praticamente inexistente.


Voltamos à pergunta inicial desta edição: como prevenir riscos sem envolver as pessoas? Perguntado sobre a questão, o ministro Jáder Filho ressaltou que a comunicação sobre riscos precisa ser voltada para a prevenção, e não apenas informativa.


O ministro destacou o exemplo do Japão, onde as crianças são ativamente envolvidas na criação de uma cultura de segurança. "No Japão, as escolas ensinam como reagir a terremotos e tsunamis, algo central na cultura do país. Queremos trazer essa prática para o Brasil", disse.


Integração na gestão de riscos e desastres

Com a previsão de desastres climáticos cada vez mais frequentes e intensos, Jáder também defende a necessidade de ações integradas entre governos estaduais e municipais. Ele também pretende alinhar esforços com o ministro da Educação, Camilo Santana, para implementar projetos educativos nas escolas, inspirados no modelo japonês.


"Se queremos enfrentar os desafios climáticos, a prevenção deve estar nos orçamentos de todos os níveis de governo", afirmou. "As cidades precisam ser sustentáveis e resilientes para enfrentar os eventos climáticos que estão por vir. Essa é uma das prioridades do governo Lula", finaliza.



Farol Ver Amazônia


Emissões agrícolas

Perda e desperdício de alimentos causam até 10% das emissões globais, alerta a ONU. A FAO pede mais investimentos para reduzir perdas de 13% após a colheita e 19% no consumo. Reduzir o desperdício pela metade pode cortar emissões agrícolas em 4% e diminuir a subnutrição em 153 milhões até 2030.


Embarque de Networking 1

No último domingo, um encontro inovador a bordo de um barco pela Ilha do Combu conectou as cadeias do cacau, chocolate e turismo. O evento reuniu líderes e profissionais com o objetivo de fortalecer parcerias e promover o desenvolvimento sustentável, além de servir como preparação para a COP30, destacando a importância do Pará no cenário global.


Embarque de Networking 2

O evento “Embarque de Networking” terá novas edições. Na primeira, os convidados foram apresentados a projetos como o Rotary Belém das Artes, o Instituto Pavulagem e a AME - Associação das Mulheres Extrativistas do Combu, destacando iniciativas locais e suas contribuições para o desenvolvimento sustentável.



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