Meio Ambiente

Coluna Ver Amazonia: A crise climática, as cidades e as eleições municipais

1038 municípios do Brasil são suscetíveis a eventos climáticos extremos. O Meio ambiente é bandeira de campanha, mas, até onde vão as promessas e os compromissos de fato?

Mariluz Coelho/João Ramid | Especial para o POD

01/09/2024 23:15
Coluna Ver Amazonia: A crise climática, as cidades e as eleições municipais

Abaixo do nível do mar, Belém pode perder parte do seu território


As cidades e os riscos climáticos formam uma dupla explosiva. Os aglomerados humanos crescentes aliados à falta de planejamento, produziram espaços caóticos. Entre ausência de saneamento básico, de infraestrutura urbana de trânsito e transporte, surgiram os lições a céu aberto e construções em locais de risco. 


No caos das cidades, o clima alterado tem consequências.  O que antes era um “probleminha”, hoje virou um “problemão”. Eventos como enchentes, secas, tsunami, furações, incêndios, que antes eram chamadas de “naturais”, não são mais. 


As alterações climáticas tornam esses eventos mais graves. Chove mais, seca mais, enche mais e os resultados são mortos e feridos, além dos danos materiais.


O clima alterado provoca secas mais severas na Amazônia


Cidades ameaçadas 


Se as tendências atuais de elevação do nível do mar continuarem, algumas cidades no planeta estão em risco de desaparecer ou sofrer danos significativos nas próximas décadas. 

Um exemplo disso são as Maldivas, um arquipélago no Oceano Índico, que é o país mais baixo do mundo, com uma média de apenas 1 metro acima do nível do mar. Se o nível das águas continuar subindo, o país inteiro corre o risco de ser submerso.

As ameaças estão em todos os continentes do planeta.  Entre as cidades que podem desaparecer, total ou parcialmente, estão Dhaka, Khulna, em Bangladesh, Jacarta na Indonésia, Miami e Nova York , nos Estados Unidos, Veneza na Itália, Xangai, na China, Alexandria, no Egito,  Bangkok, na Tailândia, Lagos, na Nigéria, Amsterdã, nos Países Baixos e Sydney, na Austrália.

A mitigação desses riscos exigirá investimentos significativos em infraestrutura, realocação de populações e esforços globais para combater as mudanças climáticas.


Amazônia


Na Amazônia, um bioma fundamental para o equilíbrio do planeta, as cidades também estão ameaçadas devido às mudanças climáticas. Os extremos do clima causados pelo aquecimento global, tem impactos na biodiversidade e nas comunidades locais. 


Cidades como Manaus (AM) e Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO) enfrentam riscos crescentes de inundações e ondas de calor devido às mudanças nos padrões de chuvas e ao aumento das temperaturas. 


Belém, a cidade da COP30, está exposta à inundações devido à elevação do nível do mar e à intensificação das chuvas. Santarém, localizada no encontro dos rios Amazonas e Tapajós, é vulnerável a inundações fluviais, especialmente em períodos de chuvas intensas, que podem se tornar mais severas com as mudanças climáticas. 


Altamira, no Pará, é afetada pelas mudanças nos padrões de chuvas e pela construção de grandes projetos de infraestrutura, como a Usina de Belo Monte, que alteram os ecossistemas locais e aumentam a vulnerabilidade da região a desastres climáticos.


Marajó


Marajó: secas, salinização das águas doces e ameaças com aumento do nível do mar


Localizada na foz do rio Amazonas, no Pará, a ilha do Marajó enfrenta ameaças climáticas devido à sua posição geográfica e às características naturais da região. 


Parte da ilha está abaixo do nível do mar, vulnerável à intensificação de eventos climáticos extremos, como tempestades e marés altas.

Essa vulnerabilidade é agravada pelas mudanças climáticas, que têm causado o derretimento das geleiras e a expansão térmica dos oceanos, resultando na elevação do nível do mar.


Isso aumenta o risco de inundações nas áreas mais baixas da ilha, afetando comunidades locais, infraestruturas, e ecossistemas delicados, como os manguezais.


Além das inundações, o Marajó também enfrenta ameaças como a salinização das águas doces, que pode comprometer a agricultura e o abastecimento de água potável. A erosão costeira é outro problema crescente, colocando em risco a habitabilidade de várias áreas da ilha.


Essas condições exigem ações urgentes de adaptação e mitigação, como a construção de infraestruturas de proteção, o planejamento urbano sustentável e a conservação dos ecossistemas naturais, que são essenciais para a resiliência das comunidades do Marajó frente às mudanças climáticas.


Eleições e clima 


A crise climática é global, mas, também deságua nos municípios e, principalmente, nas cidades. No Brasil, dos mais de 5 mil municípios existentes, 1.038 são suscetíveis a eventos climáticos extremos, afirma a Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva. 


A Ministra defende decretar calamidade pública permanente nestes municípios. O objetivo, segundo a Marina Silva, é fazer uma gestão prévia dos riscos, antes dos desastres. Assim, evitaria correr atrás dos prejuízos após o acontecimento dos eventos, que resultam em mortes, feridos e danos materiais. 


A medida está sendo estudada pelo governo federal. “Vamos levar a proposta até o presidente Lula”, disse a Marina Silva. 


Calamidade sem plano


Durante um estado de calamidade pública, as autoridades podem mobilizar recursos, pedir ajuda externa e adotar medidas extraordinárias para enfrentar a crise, como a suspensão de licitações para compras e contratações públicas, a fim de agilizar as ações de resposta e recuperação.


Porém, a medida soa como reativa e paliativa. Não resolve o problema. A maioria dos municípios do país não sistematizaram a gestão de riscos e desastres permanente.  Além disso, o meio ambiente é muitas vezes bandeira de campanha. Promessas ambientais entram e saem dos planos de governo logo após o pleito. 


A “Ver Amazônia” vai abordar o assunto na próxima edição. Como os candidatos à prefeitura estão tratando o meio ambiente e a crise climática em seus planos de governo?  



Farol Ver Amazônia


Reflorestamento

O Banco Mundial anunciou um novo título de dívida para proteger a floresta amazônica, ligando os retornos financeiros dos investidores à quantidade de carbono retirado da atmosfera. A proposta da instituição estende-se por um período de nove anos e envolve US$ 225 milhões que alargarão os fundos para o reflorestamento na Amazônia.


Contribuição justa 

Na proposta de NDC (metas e compromissos) do Observatório para a COP30, os pesquisadores fizeram as contas para apontar o que o Brasil precisa abater numa contribuição justa (fair share), no processo de redução de emissões mundiais. Essa é terceira proposta de NDC que o Observatório do Clima faz para o Brasil.  A primeira foi em 2015 e a outra em 2020.


Participação 1

Estão abertas as inscrições para atividades auto-gestionadas durante a Cúpula Social do G20, que acontecerá de 14 a 16 de novembro de 2024 na região da Praça Mauá, no Rio de Janeiro. As propostas podem ser enviadas por organizações da sociedade civil, academia, centros de pesquisa, setor privado, organismos internacionais e setores do governo por meio da plataforma eletrônica G20 Social Participativo.


Participação 2

A Cúpula Social do G20 contará com três sessões plenárias no dia 15 de novembro, abordando temas considerados cruciais para a agenda global. A primeira plenária focará no combate à fome, pobreza e desigualdades. A segunda tratará de sustentabilidade, mudança do clima e transição justa. Já a terceira, abordará a reforma da governança global.






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