Bob Fllay se lança prefeito de Belém, mas há embaraços que podem resultar em ‘voo de galinha’

Leitura sub-reptícia da empreitada do deputado cor-de-rosa envolve os padrinhos políticos e se choca com os planos do próprio partido antes de perturbar os planos do governador.

Por Olavo Dutra | Colaboradores

30/07/2023 11:04

Ex-vereador de Ananindeua e atual deputado estadual, Bob Fllay genérico mistura o riso fácil da escatologia popular com a baixa política, mas o que haverá por trás da cama?/Fotos: Divulgação.


C

 

harles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu, conhecido como Montesquieu, foi um político, filósofo e escritor nascido na França em 1689. É famoso por sua teoria da separação dos poderes, consagrada em muitas das modernas constituições internacionais, inclusive a Constituição Brasileira. É dele a frase “Quanto menos os homens pensam, mais eles falam".

A frase é talhada para muitos dos políticos em atividade no Pará neste século de absoluto apagão intelectual do parlamento, mas se adequa a poucos, como ao humorista falastrão e dublê de político Flávio Higor Pantoja, que atende pela alcunha de Bob Fllay.

Tudo nesse personagem parece fake. Até o nome. O verdadeiro Bobby Flay, por exemplo, é Robert William Flay, chef americano de celebridades, empresário da gastronomia e personalidade de reality show. Flay, o original, é proprietário e chef executivo de vários restaurantes e franquias, incluindo Bobby's Flay Burger Palace, Bobby's Flay Burgers e Amalfi.

O Flay de Ananindeua copiou o nome, mas não a envergadura. Enveredou por misturar o riso fácil da escatologia popular com a baixa política, aquela que se pratica sem nenhum apego ao bem comum. Uma das frases mais comuns ao político de baixo quilate é a expressão “eu estou na política para ajudar as pessoas”, que é um eufemismo para o assistencialismo barato, aquele que leva o eleitor ao “Serasa eleitoral”, ou seja, a “dever” voto ao político, consignado por necessidade.

Quando a política funciona verdadeiramente, o político não precisa “ajudar” ninguém, porque os direitos são garantidos e a população é assistida pelo poder público. A baixa política prospera quando a alta política falha e vigora o assistencialismo.

 

Hall da fama ao tucupi

 

Apresentador do programa humorístico "Bob Show", no Grupo O Liberal, o humorista teve uma aparição meteórica no reality show Big Brother, o que lhe valeu a notoriedade que agasalha até hoje e que, com apoio da família mais famosa de Ananindeua, converteu em dois mandatos igualmente improdutivos, um de vereador em sua cidade de origem e outro de deputado estadual, que, por assim dizer, exerce atualmente.

 

Entre apelação e apologia

 

“Profissional de like”, definição técnica para o que popularmente se chama de influencers, Fllay publicou no começo deste ano foto dele próprio dentro de uma viatura da Polícia Militar, o que foi considerado por alguns usuários das redes como “apelativo” e para outros, simples “apologia ao crime”. Mas ele fez questão de comemorar a polêmica, anunciando que “o engajamento” também o ajudou “a ficar ainda mais rico” e a aumentar o preço cobrado por patrocínio em suas redes sociais. Na mesma onda de caçar likes, Fllay, que saiu de recente bate-boca virtual com o youtuber David Mafra, publicou foto de sua derrière, acompanhada da legenda polêmica: “Foto só do rosto pq eu não preciso ficar expondo meu corpo igual essas blogueiras de hoje!”.

 

O circo está montado

 

Foi sem dúvida em busca de mais likes que o humorista publicou, semana passada, um vídeo em que, sem camisa e posando em um quarto de dormir com cama coberta com lençóis cor-de-rosa, faz rasgados - e esperados - elogios ao prefeito Daniel Santos, prefeito de Ananindeua, seu padrinho político das duas eleições que Fllay venceu, para em seguida anunciar que será - ou deve ser - candidato a prefeito de Belém.

 “Agora o circo da eleição em Belém está completo: chegou o palhaço”, disse um comentarista na internet.

  

Livre pensar é só pensar

 

Além dessa, há outras leituras possíveis. A primeira é de que se trata de uma provocação articulado pelo clã Daniel-Alessandra para gerar embaraços ao plano geopolítico da família Barbalho que, para se cumprir, precisa cumprir o acordo com o PT - leia-se Lula - de manter Edmilson Rodrigues, aliado de Guilherme Boulos, no comando da administração da capital. A aliança dos Barbalhos com a esquerda está configurada no próprio ministério comandado por Jader Filho, primogênito do senador Jader. O ativista por moradia Guilherme Simões Pereira, membro da coordenação nacional do MTST - que coordena ocupações de moradia em áreas urbanas - e indicado pelo deputado federal Guilherme Boulos, teve seu nome referendado por Lula, sendo nomeado com pompa e circunstância pelo irmão do governador do Pará, o que projeta nacionalmente o acordo para manter Edmilson, o aliado de Boulos e Lula, à frente da Prefeitura de Belém.

Outra leitura possível é de um voo solo de Bob Fllay, mas um voo de galinha, por assim dizer, no estilo dos praticados por um ex-deputado e radialista, que tem o hábito de lançar o próprio nome como candidato em vários municípios para depois negociar a desistência com os verdadeiros favoritos.

Independente da tese que o leitor escolher, a pretensão esbarra em um embaraço legal: ele foi eleito pelo PTB, mesmo partido em que está filiado o delegado afastado Everaldo Eguchi, candidatíssimo à sucessão em Belém, onde disputou o segundo turno na eleição de 2020. Eguchi aparece tecnicamente empatado com Edmilson Rodrigues e Ursula Vidal na preferência do eleitor da capital na última pesquisa publicada pela revista “Veja”.

O ex-deputado Márcio Miranda, que preside o PTB e filiou Eguchi à legenda, o fez com o firme propósito de ter um nome forte e já provado em eleição majoritária na disputa de 2024. “Eguchi é esse nome”, teria dito Miranda para aplauso dos presentes na cerimônia de adesão do rival natural de Edmilson.

 

Resumo da ópera


Quanto menos os homens pensam, mais eles falam, disse Montesquieu. O cor-de-rosa Bob Fllay não sabe quem é o barão, mas segue dando a ele mais razão do que imagina.


Papo Reto


A inspeção feita na última sexta-feira pela Capitania dos Portos na embarcação da empresa Transporte Braga, que opera, sozinha e sem concorrentes, a linha Belém-Ilha do Cotijuba, deu no esperado.

 

A lancha “Lima Ferreira II” foi abordada e inspecionada nas proximidades do Porto Foca, em Belém, por uma equipe de inspetores navais da Capitania.

 

Foram constatadas irregularidades na composição da tripulação e no funcionamento de equipamento, infrações que impedem a navegação de acordo com a lei. A embarcação foi notificada e apreendida.

 

O Diário Oficial da União sexta-feira não mente: os Ministérios da Saúde e Educação herdaram 52,3% do novo bloqueio orçamentário de R$ 1,5 bilhão, imposto pelo governo federal. 

 

Detalhe: ninguém ‘gritou’ nas universidades federais no Estado - nem o magnífico reitor Emmanuel Tourinho (foto), como de hábito. Pouquíssimo tempo atrás, por muito menos causava histeria generalizada.

 

O odiado contingenciamento das despesas discricionárias foi de R$ 452 milhões na Saúde e R$ 332 milhões na Educação.

 

Os 2,5 milhões de consumidores residenciais do Pará estão "cuíras" para saber: enfiaram o rabinho entre as pernas as autoridades que trombetearam que invocariam a Justiça contra o reajuste de 18,31%, chancelado pela Aneel, que entrará em vigor dia 7?

 

A partir do ano que vem, os brasileiros com permanência inferior a 90 dias precisarão obter uma autorização para entrar na Europa, Portugal inclusive.

 

Esse documento, o Etias, emitido online ao preço de 7 euros, o equivalente a R$ 36, terá três anos de validade.

 

Da série "se inveja matasse...": o Ceará alcançou o primeiro lugar no Nordeste em Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, ranking dos 26 Estados e Distrito Federal, além de virar referência internacional em alfabetização e ensino fundamental.

 

O Banco Central Americano aprovou no último dia 26 a implementação do chamado ‘FED Now’, um sistema de pagamentos instantâneos nos moldes do bem sucedido Pix.

 

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