Inclusão

Aplicativo ajuda no acesso à saúde para indígenas refugiados e migrantes em Belém

Ferramenta digital busca romper barreiras linguísticas e culturais no atendimento à saúde de comunidades indígenas refugiadas e migrantes

04/02/2025, 15:00
Aplicativo ajuda no acesso à saúde para indígenas refugiados e migrantes em Belém

Belém, PA - No esforço de ampliar o acesso à saúde para comunidades indígenas refugiadas e migrantes, começou a ser testado, em Belém, o uso de um aplicativo de interpretação denominado LUA - Linguagem Universal Acessível. O aplicativo, desenvolvido pela Universidade de Brasília (UnB) em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), é fruto do projeto “Maior Acesso à Saúde para Comunidades Indígenas por meio de um Aplicativo de Interpretação”.


A iniciativa, que está sendo implementada por meio do Fundo de Inovação Digital do ACNUR, tem como objetivo aprimorar a comunicação entre os povos indígenas e os profissionais de saúde, a fim de garantir um atendimento mais eficaz e humanizado nas unidades de saúde que atendem comunidades Warao. 


“O aplicativo Lua é um sonho antigo do grupo de pesquisa e extensão Mobilang da Universidade de Brasília, que desde 2011 presta serviços de interpretação comunitária para que pessoas que não falam português possam acessar serviços públicos e assim garantirem seus direitos”, comenta Sabine Gorovitz, professora da UNB e líder do Grupo Mobilang, que, atualmente, gerencia um banco com cerca de 150 intérpretes voluntários previamente formado para um total de 20 línguas diferentes.


O projeto está sendo implementado com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Belém, o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e o Conselho Warao Ojiduna. “Como intérpretes Warao e de língua espanhola para português, temos a certeza de que poderemos ajudar o nosso povo Warao por meio do aplicativo”, destaca a intérprete voluntária, Gardenia Cooper Quiroz.


A chefe de escritório do ACNUR em Belém, Janaina Galvão, destacou a importância de garantir que pessoas deslocadas à força tenham acesso pleno a serviços e direitos na comunidade de acolhida. "Ferramentas digitais como este aplicativo representam um passo transformador. O apoio do Fundo de Inovação do ACNUR foi essencial para possibilitar esta solução inovadora, que já está gerando impactos positivos em Belém," afirma.


Por meio do aplicativo, espera-se também sensibilizar os profissionais de saúde no atendimento ao povo Warao. “Acreditamos que eles vão ter um entendimento melhor do que os Warao passam no dia a dia, de como eles interpretam e entendem o que é saúde, o que é doença, e assim poderão adaptar seus cuidados e atenção aos Warao, explica Clementine Maréchal, analista socioambiental do IEB.


Para Vitor Nina, diretor da Secretaria Municipal de Saúde de Belém, o aplicativo é capaz de ajudar nessa intermediação cultural e será essencial no atendimento das pessoas em qualquer um dos serviços de saúde. “A gente entende que é um passo fundamental para a organização de uma rede acolhedora a essa população que nos procura”, ressalta.


Sobre o projeto


A fase inicial do projeto, realizada em setembro e outubro de 2024, incluiu treinamentos para 20 pessoas refugiadas em interpretação comunitária e forense, complementado por um curso de português instrumental. Essa formação permitiu que membros da própria comunidade se tornassem intérpretes voluntários. Essa fase também contou com a formação para os profissionais de saúde de Belém em intercompreensão linguística. Ambos os treinamentos buscaram fornecer ferramentas para reduzir as barreiras linguísticas e culturais no acesso aos serviços básicos de saúde. 


Durante a segunda fase, já no final de 2024, se realizou um primeiro teste de usabilidade do aplicativo em quatro unidades de saúde e duas unidades de saúde mental habilitadas para atender a população Warao. Esse primeiro teste envolveu 45 participantes, incluindo intérpretes, agentes comunitários de saúde, médicos, enfermeiros e outros profissionais da rede de saúde, além de representantes das instituições parceiras.


Neste momento, entramos na terceira fase do aplicativo, onde entregamos a plataforma para os profissionais de saúde de Belém, que atendem as comunidades Warao e para os intérpretes. Nessa fase, ocorrerá o teste real do aplicativo, no cotidiano dos atendimentos, é um momento crucial e determinante para o projeto, pois serão os feedbacks que receberemos durante o monitoramento, durante os próximos 5 meses, que indicarão o potencial do aplicativo e se poderá ser uma ferramenta eficaz para diminuir as barreiras linguísticas e culturais no atendimento à saúde e/ou os ajustes necessários para o seu aperfeiçoamento.


Foto: Divulgação/ACNUR

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