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A COP do resto das nossas vidas?

Em meio à emergência climática, a COP-30 vem com sede de respostas. Para além de um megaevento turístico, a Conferência na Amazônia promete embates históricos.

Mariluz Coelho* | Especial para o POD

02/01/2024 19:21
A COP do resto das nossas vidas?

Coimbra (POR) - Existe COP há 28 anos. Mas, em terras amazônicas, até bem pouco tempo a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas era só um nome restrito ao mundo acadêmico e aos corredores ambientalistas. Quase que desconhecida da população que vive na maior floresta tropical do planeta, a COP surgiu por aqui subitamente e para o estrelato. A conferência marcada para acontecer em Belém, na Amazônia, em 2025, virou mote, slogan e negócio. Seria a COP do resto das nossas vidas?


A COP 30 - a primeira em território brasileiro - começou na COP28, realizada no final de 2023, em Dubai, Emirados Árabes Unidos. Nos 28 anos de COP pelo mundo, nunca se viu tantos brasileiros, em particular paraenses, embarcarem para acompanhar a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. Isso é bom. O efeito COP na Amazônia tem um lado positivo por chamar a atenção das pessoas para um tema que é crucial à vida humana, mas que, no Brasil, não ecoava para o grande público até então e não era tratada com tanta ênfase como agora. Porém, a Conferência não é só isso. 


COP 30 em Belém: pela primeira vez os embates terão como palco a maior floresta tropical do planeta.


A COP precisa ser melhor entendida para ser praticada na sua essência. É uma espécie de “encontro de cavalheiros” - representantes de governos e sociedade civil - que travam batalhas com objetivos de firmar acordos em torno das mudanças climáticas no planeta, compromissos que não são cumpridos em sua integralidade. Então, a COP é muito mais que um simples megaevento turístico. A conferência é um momento único onde são mostradas, e às vezes admitidas pelos países, as mazelas socioambientais identificadas pela ciência. Na conferência também são propostas possíveis soluções para os riscos climáticos, além de apresentados resultados dos compromissos assumidos por países de diferentes continentes para mitigar os efeitos das alterações no clima. 


A primeira COP ocorreu em 1995, em Berlim, na Alemanha. Na época, a pergunta foi sobre o que os países deveriam fazer para frear as emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE). De lá até a COP 28, algumas batalhas foram travadas entre governos e representantes da sociedade civil, levando em conta sempre a pressão dos donos do poder econômico, que ditam as regras de produção e do consumo no mundo.


Em 1997, na COP3, em Kyoto, no Japão, foi estabelecido o Protocolo de Kyoto, com as metas de redução das emissões dos gases de efeito estufa em 5,2% para os países ricos. Porém, mesmo com o protocolo estabelecido na COP, ocorreram resistências e, somente em 2004, houve a adesão de 192 países. Todos se comprometeram a cumprir as metas. Mas entre ação e intenção existe sempre um longo caminho. 


Na COP13 em Bali, na Indonésia, em 2007, os membros da conferência chegaram à conclusão de que sem a inclusão dos países emergentes - os mais pobres e geralmente os produtores de matéria prima - nas metas de redução das emissões, não seria possível ter os resultados para o planeta como um todo. Os países mais pobres precisavam de incentivos e financeiros para implementar medidas em torno dos riscos climáticos em seus territórios. 


Mas foi somente na COP 15, na Dinamarca, que os países industrializados se dispuseram a liberar recursos para auxiliar os mais pobres na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Uma ação mais específica, no entanto, só aconteceu em 2015, na COP 21, na França. O principal resultado foi o Acordo de Paris, que estabeleceu como desafio manter o aumento da temperatura média global menos de 2°C e de se empenhar para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. 


Estudos da ONU, através do Painel intergovernamental para as Mudanças Climáticas, apontam que o aumento da temperatura pode elevar o nível do mar de forma extrema, provocar os efeitos de eventos catastróficos como secas, enchentes e incêndios. O Acordo de Paris serviu de base para todos os demais que foram firmados nas COPs seguintes. Naquela Convenção, ocorrida na França, novamente as nações mais ricas firmaram compromisso para colaborar financeiramente com os mais pobres. Quase 200 países - 195 - assinaram o Acordo de Paris, inclusive os Estados Unidos, que estão entre os que mais poluem no mundo, ao lado de China.  Os danos socioambientais são consequência direta do modelo de produção e de desenvolvimento desenhados atualmente no planeta. 


O protagonismo do Brasil nas questões ambientais cresceu ao longo de 28 anos de realização de COPs pelo mundo. A escolha de Belém, a capital do Pará, como sede da COP30, em 2025, tem dois lados. O primeiro é o simbolismo de ter pela primeira vez no Brasil e na Amazônia uma edição da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. Isso vai trazer investimentos para a região e também aguça um movimento mais popular em torno das questões ambientais. Porém, por outro lado, por aqui, entre o grande público, a COP ainda é entendida como um megaevento com perfil turístico embalado pelo tema 'meio ambiente'. 


Também é perceptível o frenesi no setor produtivo que opera na Amazônia num movimento para ligar os grandes negócios como mineração, agricultura, exploração de energia e pecuária ao meio ambiente. Mas, no lado técnico da COP, o marketing ambiental de última hora tem soado como bateria de escola em um novo samba enredo. Isso porque, diante das emergências climáticas, as questões ambientais da Amazônia e do mundo carecem de olhar e fazer de verdade. A forma de produzir no mundo está obsoleta diante das questões socioambientais, que impõem a adequação ou transformação das atividades produtivas, mesmo que gradativamente. 


A escolha da Amazônia (cidade de Belém) como sede, torna a Conferência de número 30 um marco na história das conferências. Pela primeira vez os embates terão como palco a maior floresta tropical do planeta, com a maior biodiversidade do mundo. Não é qualquer lugar. A Amazônia é fundamental para amenizar os efeitos das mudanças climáticas no planeta. Definitivamente não será apenas um megaevento turístico. Em meio às emergências climáticas, a COP 30 chegará ávida por respostas. 


(Fotos: Ricardo Martins/@vaipormim e João Ramid)


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*Mariluz Coelho é jornalista, especialista em comunicação científica na Amazônia, mestre em Desenvolvimento Sustentável e pesquisadora de comunicação de riscos socioambientais nas alterações climáticas pelo Observatório do Risco da Universidade de Coimbra, Portugal. @mariluzcoelho_ 

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