Governos de oito países da América Latina emitiram um comunicado condenando
o mandado de prisão contra o ex-diplomata e candidato opositor à presidência da
Venezuela Edmundo González nesta terça-feira, 3. O Brasil não está entre estes
países. Apesar de o governo Lula ter sinalizado incômodo com mais uma escalada
autoritária do ditador Nicolás Maduro, ainda não se manifestou publicamente
sobre o caso.
Um primeiro comunicado foi compartilhado pela chancelaria da Costa Rica, mas
com a assinatura de Argentina, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana
e Uruguai. O Chile também se manifestou contra a prisão de González em um
comunicado posterior.
"Argentina, Costa Rica, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e
Uruguai rejeitam de forma inequívoca a ordem de prisão emitida pelo Juiz do
Primeiro Tribunal Especial do Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela contra o
senhor Edmundo González, candidato presidencial da oposição no último processo
eleitoral de 28 de julho de 2024", diz o comunicado.
O mandado emitido pela Justiça da Venezuela na segunda-feira, 2, atendeu a um
pedido do Ministério Público. O candidato presidencial está sendo investigado
pelos crimes de usurpação de funções, falsificação de documentos públicos,
incitação à desobediência, conspiração e sabotagem de sistemas por denunciar
fraude na última eleição.
A investigação tem como foco o site que a oposição criou para divulgar as
cópias das atas das urnas eleitorais que comprovariam a sua vitória de González
contra Maduro, com 67% dos votos. Do outro lado, instituições alinhadas ao
chavismo declararam e ratificaram a reeleição de Nicolás Maduro, sem que os
dados das urnas fossem apresentados até agora, um mês depois da eleição.
No dia 22 de agosto, o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ)
reconheceu a vitória de Maduro e proibiu a divulgação das atas eleitorais.
Pressionado pela comunidade internacional, o chavismo tem aumentado a repressão
aos críticos com a prisão em massa de manifestantes, incluindo menores de
idade, e a abertura de investigação contra os líderes da oposição.
Para os sete países que assinam o primeiro comunicado, o mandado de prisão
"cita vários crimes que nada mais são do que uma tentativa de silenciar
González e ignorar a vontade popular venezuelana". De acordo com o texto
publicado pela chancelaria da Costa Rica, os sete países latino-americanos
apontam que não existe separação de poderes e nem garantias judiciais na
Venezuela. "Nossos esforços serão firmes e contínuos para exigir que as
autoridades venezuelanas garantam a vida, a integridade e a liberdade".
Em um comunicado separado, o Chile também reiterou que "condena qualquer
forma de repressão contra os opositores do regime ditatorial da
Venezuela".
Brasil em silêncio
Até agora o governo de Luiz Inácio Lula da Silva não se manifestou sobre o
mandado de prisão contra González. Segundo apuração do Estadão, o governo Lula
viu com muita preocupação a ordem de prisão. Em conversas reservadas, o
presidente brasileiro chegou a dizer que o país vizinho está se distanciando
cada vez mais da comunidade internacional.
Na avaliação do Itamaraty, Caracas tem mandado sinais de que não quer negociar.
Lula ainda não chama Maduro de ditador, mas, de acordo com interlocutores, já
percebeu que ele se enreda cada vez mais numa escalada autoritária.
Nos bastidores, há divergências no governo em relação ao tom a ser adotado com
Maduro. Enquanto auxiliares de Lula no Palácio do Planalto defendem uma posição
que mantenha "pontes" abertas para o diálogo com Caracas a qualquer
momento, o Itamaraty vê pouco espaço para novas concessões diante do
fortalecimento da ditadura na Venezuela.
Desde o pleito venezuelano no fim de julho Brasil, Colômbia e México tentam
intermediar um diálogo entre o regime chavista e a oposição, mas a comunicação
com Maduro está cada vez mais difícil.
Nas últimas semanas, Lula chegou a defender a realização de uma nova eleição no
país vizinho, o que desagradou tanto os chavistas quanto a oposição.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Reprodução/Instagram