Brasília, 26 - O ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) e o filho "03" dele, o deputado licenciado Eduardo
Bolsonaro (PL-SP), atacaram o Supremo Tribunal Federal (STF) após o termino do
primeiro dia de julgamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR)
de tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Pelo X (antigo Twitter), Bolsonaro disse, após o término da sessão do STF desta
terça-feira, 25, que a Corte tem feito mudanças nas diretrizes internas sobre o
foro privilegiado para prejudicá-lo.
Segundo o ex-presidente, que defende que não deveria ser julgado pelo Supremo,
o Tribunal transforma a "Constituição e o Regimento em um self-service
institucional". "Escolhe-se o que serve ao objetivo político do
momento e descarta-se o que poderia garantir um julgamento minimamente
justo", afirmou o ex-presidente.
"Trata-se da sequência de casuísmos mais escandalosa da história do
Judiciário brasileiro: adaptações regimentais e mudanças jurisprudenciais
feitas sob medida, com nome, sobrenome e prazo de validade. Com a palavra,
juristas, legisladores e todos os que estão enxergando esses absurdos",
disse Bolsonaro no X.
Nesta terça-feira, 25, a Primeira Turma do STF começou a julgar a denúncia
contra Bolsonaro, Braga Netto e outros seis aliados do ex-presidente. Os
ministros negaram um pedido das defesas dos denunciados questionando a
competência do STF para julgar o caso Eles alegam que os acusados não têm mais
foro por prerrogativa de função e, por isso, o processo deveria tramitar na
primeira instância.
O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, lembrou que o tribunal
reafirmou sua competência para processar e julgar ações relacionadas ao 8 de
janeiro de 2023, independente do foro dos acusados.
"Não é algo novo. Em 1.494 ações, o Supremo Tribunal Federal reafirmou a
sua competência para todos os crimes relacionados ao dia 8 de janeiro de
2023", rebateu Moraes. "O tratamento é igualitário a todos os
acusados, a todos os denunciados. Não se justifica nenhum tratamento
diferenciado."
Além disso, em julgamento concluído no dia 11 de março, mas que já tinha
maioria formada desde setembro de 2024, os ministros do Supremo ampliaram o
alcance do foro privilegiado e expandiram a competência da Corte para julgar
autoridades e políticos. O tribunal definiu que, quando se tratar de crimes
funcionais, o foro deve ser mantido, mesmo após a saída do cargo.
Também pelo X, Eduardo Bolsonaro repercutiu a detenção do desembargador
aposentado Sebastião Coelho, impedido de entrar no plenário da Primeira Turma.
Ele foi levado para a delegacia do Supremo por desacato e ofensas ao Tribunal.
Coelho é advogado de Filipe Martins, ex-assessor da Presidência que também foi
denunciado pela PGR. A sessão desta terça, porém, não julgou o caso do cliente
do desembargador aposentado.
'Novo nível de arbitrariedade', diz Eduardo dos EUA
Segundo Eduardo Bolsonaro, a detenção de Coelho significou um "novo nível
de arbitrariedade". O texto da postagem está em inglês e Eduardo prometeu
que vai denunciar o caso para o governo do presidente americano, Donald Trump.
O parlamentar se licenciou da Câmara para ficar nos Estados Unidos, onde
distribui ataques ao Supremo e articula com políticos próximos de Trump. A
família Bolsonaro e aliados dela emplacam que a ida de Eduardo para o país foi
devido a "perseguição política do Supremo".
"Agora, no Brasil, o Supremo Tribunal Federal está violando
escandalosamente as prerrogativas dos advogados, prendendo advogados sem
qualquer consideração ou respeito. Esta é uma violação grave do Estatuto da
Profissão Jurídica - mais um abuso que farei questão de denunciar às
autoridades aqui nos Estados Unidos", afirmou Eduardo.
Nesta quarta-feira, 26, o colegiado retoma o julgamento e vai definir se os
denunciados vão se tornar, ou não, réus no Supremo pela tentativa de ruptura
democrática.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil